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 A Nossa Terra na História e na Identidade -O TRABALHO E O LÚDICO NO DIA A DIA DAS NOSSAS GENTES DE ANTIGAMENTE

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Antonio Mendes




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MensagemAssunto: A Nossa Terra na História e na Identidade -O TRABALHO E O LÚDICO NO DIA A DIA DAS NOSSAS GENTES DE ANTIGAMENTE   A Nossa Terra  na História e na Identidade  -O TRABALHO E O LÚDICO NO DIA A DIA DAS NOSSAS GENTES DE ANTIGAMENTE Icon_minitimeTer Out 14, 2008 2:21 pm

OUTUBRO


Em Outubro semeava-se o trevo, a cevada, a aveia e a serradela. Que como nos dizia o senhor António era a seara dos bois. Que os animais tinham que comer para trabalhar, dizia-nos também, para arrojar e embelgar as terras pondo-as prontas a semear na última semana, chamada de Primavera do Outono semeava-se trigo, assim como se colhiam algumas searas já criadas. Eram, como também alguém nos dizia, searas que estão na terra/mas ainda por arranjar/algumas porque não houve tempo/outras a acabar de criar.

Princípio de Outubro era tempo de algumas famílias se mudarem. Era gente que se mudava/ de casa para casa/procurando melhor lugar/não sebendo onde estava. Entretanto, os pastores deslocavam-se com os rebanhos para a Borda de Água, por causa das “boletas” que começavam a cair mais cedo e se designavam por “bastão” e faziam falta para engorda dos “porcos”. Sendo que também se aproveitavam alguns baguinhos de azeitona que iam caindo, que então tudo o que caía para o chão era bem aproveitado. O azeite não seria do melhor mas a #” funda” era igual. Pena era, diziam, que uns ficassem com quase tudo e outros com quase nada. É que quem apanhasse a azeitona em terrenos de outros, fazia-o ao terço ou ao quarto, recebia uma das três ou quatro partes.

Era também em Outubro que se ia à Feira da Ponte onde se compravam as “varas” de porcos, sendo cada uma constituída por um número superior a 25/30 e que normalmente não ultrapassavam os cem.


Dicionário Rural

“Arrojar as terras”
“Gradar”.As terras estavam lavradas e passava-se por elas com a “ grade”

Mudar de casa para casa
Mudar de patrão para patrão,ficando a viver em casa e terrenos do mesmo.
Fazia-se normalmente pelo S.Miguel (Samiguel, como se dizia) ou seja a 29 de Setembro.Havia no entanto quem o fizesse a 1 de Outubro.


Lino Mendes
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Antonio Mendes




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MensagemAssunto: NOVEMBRO   A Nossa Terra  na História e na Identidade  -O TRABALHO E O LÚDICO NO DIA A DIA DAS NOSSAS GENTES DE ANTIGAMENTE Icon_minitimeQui Nov 20, 2008 7:46 pm

Era o mês pleno do Outono pois amadurecem os frutos dominantes - a azeitona, as bolotas, e as laranjas; e enquanto isso o porco da montanha cresce assim como há erva renascida para os ovinos reproduzidos. Durante os 30 dias do mês, os dias decrescem 52 minutos (o primeiro com 10h e 34m e o último com 9h e 42m).

O "Dia de Todos os Santos" remonta ao ano de 607 e era altura de comer as broas, assim como no dia 11 (Dia de S. Martinho) era dia de ir à adega e provar o vinho. Mas o dia 1 dá-nos a triste recordação do terramoto de 1755.

Era o mês melhor para as sementeiras, por isso era bem aproveitado no tempo, traba-lhava-se seis dias por semana por vezes de empreitada.

Havia que semear o trigo, e para isso a terra era lavrada por animais, nomeadamente por vacas e bois. Mas era também tempo de apanhar azeitona, nem um baguinho se desaproveitava.
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Antonio Mendes




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MensagemAssunto: DEZEMBRO   A Nossa Terra  na História e na Identidade  -O TRABALHO E O LÚDICO NO DIA A DIA DAS NOSSAS GENTES DE ANTIGAMENTE Icon_minitimeSeg Jan 05, 2009 8:11 pm

DEZEMBRO


Estamos em MONTARGIL e o ano de 1930 está quase a chegar ao fim. Continua a apanha da azeitona, e com a ajuda de vacas e de bois tenta-se acabar a sementeira. Embelga-se e semeia-se aproveitando bem o tempo--- já que é neste mês que existe o dia mais pequeno(em que acontecem os dias mais pequenos).

Ou porque chove ou porque está frio, a azeitona está difícil de apanhar, tempo que aliás já se esperava, pois que andasse lá por onde andasse o mês de Natal (do frio) cá havia de chegar.

Antes da Missa do Galo, no Largo da Igreja começa a arder um
enorme madeiro. Enquanto do campo (dos arredorews da vila) vem muita gente, os homens trazendo archotes de gamão para alumiar o caminho.
As pessoas de mais idade vestem o fato domingueiro e de festa para ir à missa, em especial as mulheres que põem o xaile preto e o lenço na cabeça, com as de mais idade, já avós, usando capa preta que chega por vezes aos pés e ainda touca de veludo igualmente preta.


A ementa tradicional na quadra natalícia integrava um prato hoje ainda muito apetecido—miolos de porco. Dizia-se até, que quem nessa quadra não comesse miolos de porco não festejava o Natal. Isto, ao almoço, porque ao jantar havia chibo e/ou galinha corada.

Ainda quanto aos miolos de porco, essa ementa só era possível se a matança do porco tivesse sido feita duas ou três semanas antes. Que quase não havia “casa” que não engordasse o seu porquito para durante o ano ter na salgadeira carne que durasse. Enquanto outro engordava no “rodeio”
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Antonio Mendes




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MensagemAssunto: JANEIRO   A Nossa Terra  na História e na Identidade  -O TRABALHO E O LÚDICO NO DIA A DIA DAS NOSSAS GENTES DE ANTIGAMENTE Icon_minitimeSeg Jan 05, 2009 8:13 pm

J A N E I R O

Estamos em Janeiro do ano de mil novecentos e vinte e tantos. E como na sua enorme sabedoria o povo diz, é tempo de ter " um porco ao sol e outro no fumeiro" isto é, tempo de ter um "bácoro" no "rodeio" a engordar e é também tempo de "matança" para na "salgadeira" se guardar a carne para o ano.

Entretanto, na Charneca o "trabalhador do campo" faz a sua lida. É preciso semear o pão, por isso há que " arrancar o mato" e há que "cavar", E de bois engatados à charrua"lá se vai também "regando" e "arrancando carvalheiras".

É também tempo da "apanha da azeitona", quer nos olivais familiares, quer em olivais de outros onde se trabalha à percentagem.

É preciso sustentar os filhos e a fome mete medo, por isso homem e mulher e também o rapaz e a rapariga (os filhos) tudo trabalha.

A CHARNECA fica por vezes muito longe, é demorado chegar até lá, até porque caminhos feitos a pé, por vezes descalços. E assim, à semana ou à quinzena lá se vai de farnel aos ombros (os homens) ou à cabeça (as mulheres).

À noite "puxam" para as cabanas onde instalam o "quartel". E onde à ceia e à luz da "lanterna" contam contos e histórias para melhor fazer passar o serão.
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MensagemAssunto: FEVEREIRO   A Nossa Terra  na História e na Identidade  -O TRABALHO E O LÚDICO NO DIA A DIA DAS NOSSAS GENTES DE ANTIGAMENTE Icon_minitimeQua Fev 25, 2009 2:27 pm

F E V E R E I R O



Estamos em Fevereiro, mês de S.Valentim, padroeiro dos namorados, durante o qual, segundo a sabedoria popular ”pelo crescente da lua semeiam-se alguns legumes, melões e pepinos, enxertam-se macieiras, plantam-se loureiros, transplantam-se laranjeiras, limoeiros, etc. e em terras temperadas fazem-se bacelos e mergulhias. Entretanto,”pelo minguante da lua, podam-se vinhas, cavam-se parreiras, limpam-se as árvores” e é altura também de lavrar as terras fortes e argilosas para as sementeiras de Primavera. Podam-se as árvores de caroço. E quer no começo ou no fim, lá vem o Entrudo.

Refira-se, entretanto, que o Dia de Entrudo pode não acontecer em Fevereiro, embora os festejos comecem sempre nesse mês.


Em MONTARGIL e recuando no tempo (aí por 1930/40), era altura de romper carvalheiras, com mulheres, rapazes e raparigas, descalços a caminharem para a Charneca Na altura o trabalho não era muito, e o mato arrancava-se até Domingo Gordo, na véspera do qual o pessoal voltava a casa.


Começava então o Entrudo, por certo a época mais festejada no ano, em especial pela gente do campo. O Domingo Gordo, então, era um dia muito especial para o pastor e para o ajuda, que vivendo todo o ano na Charneca vinham então à Vila. E para de volta festejar o dito Entrudo, compravam-se então bichas, bombas e serpentinas. Era uma festa. As pessoas juntavam-se, comiam e bailavam ao som do harmónio.



O Entrudo (a designação portuguesa de Carnaval) é uma festa móvel que chegou a ser festejado em Montargil com Contradanças e Teatro de Rua, começando com a queima dos Amigos e das Amigas, dos Compadres e das Comadres (à quinta-feira) e terminava, quarta-feira de Cinzas com o Enterro do Entrudo.


Mas o mês de Fevereiro continuava a ser tempo da esgalha (o limpar das árvores, os ramos que estavam a mais para o respectivo desenvolvimento) e para o arrancar do mato (aliás, as carvalheiras eram mato com raízes profundas). E, se o arrancar do mato era um serviço duro, --só feito por mulheres e por cachopos, que os homens andavam noutras actividades--nem por isso ou talvez por isso mesmo--, deixavam de cantar. Era então o cantar a casar, que aliás não conhecemos em qualquer outra região, e isso nos disse também um dia o saudoso professor Tomaz Ribas.

Dispostas em fila, a trabalhar, uma a umas as mulheres iam casando cada uma das outras. E aqui deixamos um exemplo da letra, cuja música, sempre igual, não deixa de reflectir o peso do trabalho.

Olha a Margarida,

o que é que ela quer;
o Luís Caleiro
pra casar com ela.
E se ela quiser,
o Luís Caleiro leva uma mulher(a)

Leva uma mulher,
leva uma flor,
o Luís Caleiro
é o teu amor.(b)

É o teu amor,
é o teu ensejo,
o Luís Caleiro
já te deu um beijo.

a)-Entenda-se como uma boa dona de casa
b)-da Margarida



Lino Mendes
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Antonio Mendes




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MensagemAssunto: MARÇO   A Nossa Terra  na História e na Identidade  -O TRABALHO E O LÚDICO NO DIA A DIA DAS NOSSAS GENTES DE ANTIGAMENTE Icon_minitimeQua Fev 25, 2009 2:31 pm

MARÇO

"Março, Marçagão, de manhã Inverno e de tarde verão"
ou ainda
"Enxames de Março apanha-os nem que seja no regaço"

É o povo na sua eterna sabedoria.
Estamos em Março!
Lavra-se a terra para o milho de sequeiro, para no final do mês se semear com a grade. Cava-se a horta e semeia-se feijão temporão, abóboras e melão.
Plantam-se couves, alfaces e cebolas. Semeiam-se as batatas e cava-se terra para o arroz. Esgalham-se sobreiros e azinheiras. Arroteiam-se carvalheiras. Arranca-se o mato.
Arrancar mato é trabalho para mulheres, já o explicamos no mês de Fevereiro, é trabalho para mulheres e rapazes, para rapazes rondando os dez, onze e doze anos, que os homens se ocupavam em trabalhos que exigiam maiores esforços como era o arrotear carvalheiras. Afinal um trabalho comum que se destinava a limpar as propriedades numa luta contra o fogo.
Era uma vida dura de trabalho, mas mesmo assim se ia cantando:

O almoço quer-se às nove
e o jantar ao meio-dia
a merenda às quatro e meia
e o cear ao fim do dia.

Por vezes trabalhava-se de empreitada, que acabava por volta das duas da tarde. Dormia-se até à noitinha e era então tempo de bailar nos "quartéis" onde pernoitavam.
Se de outros "serviços" para o bailarico apareciam homens com realejos ou harmónios/concertinas, tudo bem. Se assim não fosse iam cantando e bailando " saias". Ou então as mulheres entretinham-se a fazer " renda", como por exemplo "marcando" lenços de bolso para oferecer aos rapazes.
Eram noitadas que aconteciam, que o bailarico era certo duas ou três vezes por semana.


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MensagemAssunto: ABRIL   A Nossa Terra  na História e na Identidade  -O TRABALHO E O LÚDICO NO DIA A DIA DAS NOSSAS GENTES DE ANTIGAMENTE Icon_minitimeSáb Abr 11, 2009 3:57 am

Estamos em ABRIL, o mês que os antigos nos dizem ser a chave do ano, o mês em que, segundo a sabedoria popular,”no princípio ou no fim vem a ser ruim” e em que “a velha vai onde quer ir e a sua casa vem dormir”.

É o mês de cavar e semear a horta, de cavar a vinha e também terra para arroz. E em Montargil abundavam as hortas assim como pelos anos vinte havia alguma vinha e produzia-se muito arroz.
Quanto às colmeias, lá dizia o povo que”os enxames de Abril não se podem deixar fugir”.

Para ver quem o cavava primeiro, semeava-se o milho em Março, e a última semana de Abril era a semana do “garganeiro”, isto é, do patrão que tudo queria, pelo que se “enregava” (começava a trabalhar) de manhã cedo e não se tinha sesta.

Muita terra se lavrava com burros, mulas e bois, e era na charneca que o milho dava muitos alqueires (1) e moios(2).
Mas, o que era afinal a Charneca? Dizem-nos que um lugar por desbravar, por vezes quase logo ali, mas muito longe porque feito o caminho a pé e descalços, de farnel ao ombro ou à cabeça e para onde os trabalhadores se deslocavam á semana ou à quinzena.


E o curioso é que depois das caminhadas, e dormindo em “quartéis” (cabanas) onde por vezes se albergava também o gado, as “bailaradas” não faltavam pela noite dentro. No dia seguinte, dizem-nos , quase que caíamos para os canteiros de arroz.


1)---medida de 15 litros, que no entanto e na Charneca era de 13,8 ou 14

2)---60 alqueires


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MensagemAssunto: MAIO   A Nossa Terra  na História e na Identidade  -O TRABALHO E O LÚDICO NO DIA A DIA DAS NOSSAS GENTES DE ANTIGAMENTE Icon_minitimeSex maio 08, 2009 2:47 pm

M A I O



Mês de Maio mês de amargura, ainda há pouco era manhã e já é noite escura— assim dizia o povo na sua enorme sabedoria.


Era na primeira segunda-feira de Maio que começava a cava do milho e igualmente começava a sesta. A sesta mas para quem a tinha, porque havia patrões garganeiros isto é, que exploravam ao máximo os trabalhadores.

Na primeira segunda-feira do mês, houvesse frio ou fizesse calor ia tudo para o trabalho com a enxada de cavar milho ao ombro. E o ti António com quem muito conversamos sobre o assunto, dizia-nos versejando:
Não é cavar milho que custa
nem o calor do verão,
mas o cabo da enxada
e o tal dito macacão.

Mas o mês de Maio não era apenas reservado à cava do milho, pois igualmente se lavrava na cova e nos vais (vales). E porque era tempo em que o calor se fazia sentir, logo ao romper da manhã se engatavam os bois à charrua e à grade.
E no campo se dormia
pois que ninguém tinha medo,
e cantava a cotovia
de manhãzinha cedo.



Bem, não rima nada bem, mas o ti António, que gosta de nos contar em verso estas coisas, diz que que não é poeta, embora goste de fazer versos. E diz-nos com uma certa ironia, como alguns poetas de agora que não percebo.

Algumas décadas atrás, havia a preocupação de no primeiro dia do mês ninguém se levantar depois do nascer do sol, pois quem deixasse entrar o Maio, dizia-se, ficava amarelo todo o ano. E quando os dorminhocos chegavam à porta lá estava o ramo de maias como sinal de dorminhoco.

Entretanto, e como da Páscoa à Ascensão quarenta dias vão, temos o Dia da Espiga (quinta-feira da Ascensão). E além do ir apanhar a espiga, o que também se fazia em grupo levando mesmo o lanche para o campo, mandava ainda a tradição que para se ter sorte, para não se acabar o dinheiro, era feito um ramo com três ou cinco espigas de centeio, trigo, aveia, cevada, um raminho de oliveira e flor do campo (papoila/malmequer). O qual depois se guardava em casa, pendurado, até ao ano seguinte.
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MensagemAssunto: J U N H O   A Nossa Terra  na História e na Identidade  -O TRABALHO E O LÚDICO NO DIA A DIA DAS NOSSAS GENTES DE ANTIGAMENTE Icon_minitimeTer Jun 09, 2009 6:14 pm

É o mês dos Santos Populares— Santo António, S.João e S. Pedro
No campo é tempo de colheita, aproximando-se mais do fim”o ciclo da vida da gleba”.Nas Escolas, é tempo de avaliação. E é em Junho que acontece o dia maior do ano, o dia 21,que dá início a uma nova estação—o Verão.

Recuemos no tempo algumas décadas. A Charneca encontra-se coberta de pão, é tempo de ceifar. Ao domingo, tudo vem à vila para arranjar patrão. Nessa altura, a hoje Rua do Comércio, nesse tempo chamada de Rua da Frente ou de Rua Grande, era um mar de gente, desde a drogaria do Manecas (hoje sede do PCP) até à Praça passando pela taberna do Caçurras.

Primeiro era a ceifa da cevada, depois a da aveia e logo a seguir a do centeio e claro ,a do trigo .Dizia o povo, que no dia 13 o Santo António passava com o lençol por cima do trigo e este ficava logo criado.

Enregava-se em três margens, dizem-nos, era rente e para diente, ninguém queria ficar para trás, parecia mal a toda a gente.

Por essa altura, vinham para cá ranchos de galegos (das Beiras), homens e mulheres que ceifavam a eito redondo, isso é, em grupo, enquanto os trabalhadores de cá ceifavam à margem— cada pessoa tinha três margens para ceifar, (uma margem è a elevação que fica entre dois regos.)

Era também o mês de mondar o arroz, isto é, tirar a milhã e toda a espécie de erva. Outro serviço que também se fazia (começava) nessa altura era o tirar da cortiça,serviço que necessita de pelo menos quatro pessoas---o tirador, o ajuntador( uma mulher ou um rapaz) o molheiro que dava a cortiça ao carro,e a cozinheira que era igualmente a aguadeira.


Lembremos entretanto alguns adágios relativos ao mês:

“Sardinha de S.João pinga no pão”
“Se queres ter pão lavra pelo S.João”
“S.Miguel e S.João passado, tanto manda o amo como o patrão”
“Feno, alto ou baixo, em Junho é segado”
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Antonio Mendes




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MensagemAssunto: J UL H O   A Nossa Terra  na História e na Identidade  -O TRABALHO E O LÚDICO NO DIA A DIA DAS NOSSAS GENTES DE ANTIGAMENTE Icon_minitimeQui Jul 02, 2009 5:42 pm

Antes de amanhecer começava a azáfama nos campos.Com carros de bois, de burros ou de mulas, o trigo era levado para a eira, para então se fazerem os média e os frascais . Entretanto a eira tinha que ser raspada e ogada, sem para o efeito a ágau transportada em dornas e barris.

Normalmente a eira era ougada de tarde, às vezes, mesmo já de serão, e logo de manhã e para pisar eram metidas as ovelhas e as cabras, aquilo que mais estivesse à mão. Entretanto e depois de tirado o rebanho da eira, esta era barrida /varrida) após o que se metia um calcador para a comprimir.


Era então altura de meter o trilho, por vezes até dois (trilhos) e fazia-se a debulha, com burros, mulas ou éguas, até mesmo bois ou vacas. E logo que o milho estivesse debulhado, tirava-se o trilho para em seguida se tirarem as palhas, com forcados ou
Forquilhas.


E tudo isto era feito numa correria, que o trabalho tinha que ser feito de dia, que de noite a raposa poderia vir à eira.

JULHO era ainda o mês em que se mondava arroz e tirava cortiça .
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Sommer




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MensagemAssunto: Muito interessante esta página! Força p/continuarem   A Nossa Terra  na História e na Identidade  -O TRABALHO E O LÚDICO NO DIA A DIA DAS NOSSAS GENTES DE ANTIGAMENTE Icon_minitimeDom Jul 05, 2009 1:09 am

Muito interessante e devem continuar estas recolhas pois a herança mais importante de um Povo são as suas memórias!
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Antonio Mendes




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MensagemAssunto: Re: A Nossa Terra na História e na Identidade -O TRABALHO E O LÚDICO NO DIA A DIA DAS NOSSAS GENTES DE ANTIGAMENTE   A Nossa Terra  na História e na Identidade  -O TRABALHO E O LÚDICO NO DIA A DIA DAS NOSSAS GENTES DE ANTIGAMENTE Icon_minitimeDom Jul 05, 2009 5:25 pm

Obrigado pelas palavras, mas o Grupo de Promoção e neste caso particular o rancho folclórico(principalmente devido ao grande trabalho de recolha do Lino Mendes) tem essa missão.
Ainda há quem não de valor a isso, mas o que será de um povo quando perder a sua identidade cultural?
Vamos fazendo o que é possível.
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Antonio Mendes




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MensagemAssunto: A G O S T O   A Nossa Terra  na História e na Identidade  -O TRABALHO E O LÚDICO NO DIA A DIA DAS NOSSAS GENTES DE ANTIGAMENTE Icon_minitimeQua Out 07, 2009 12:29 pm

No campo da Mitologia, o mês de Agosto era pelos antigos romanos consagrado a “Ceres” ,para eles a deusa dos campos e das searas. Já nos novos tempos, aí por 1900/20,os nossos agricultores não ficavam bem dispostos quando debulhavam o milho no mês de Agosto.
Erra tempo de malhar centeio, que ficava sempre para o resto da eira. Quatro homens e quatro moerias, era um espectáculo. Entretanto, diga-se que a palha de centeio era aproveitada para tapar outras palhas que estavam feitas numa almeada , serviço que era feito de manhã quando estava marzijá que assim se fazia da palha o que se queria e o que o patrão também desejava, que se levasse o menos tempo possível a fazer as coisas.

Logo a seguir, havia que se tapar a cabana. Entretanto, trabalhava-se na seara do milho, algum já estava até desfolhado, faltando atar a folha, apanhar o milho e traze-lo para a eira para ser descamisado, trabalho que se fazia mais com rapazes e cachopas.
Tínhamos então a DESCAMISADA, onde se cantavam as “saias” e o “bailarico” não faltava, nem a beijoca quando a a maçaroca preta aparecia.
Os vais também se felpavam dentro do mês de Agosto, e com a sachola na mão se andava do nascer ao sol posto. O corpo banhado em suor, assim se passava o dia, mas curiosamente com alegria…Tudo era feito à mão, pena no entanto que nem todos tivessem patrão.
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Antonio Mendes




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MensagemAssunto: SETEMBRO   A Nossa Terra  na História e na Identidade  -O TRABALHO E O LÚDICO NO DIA A DIA DAS NOSSAS GENTES DE ANTIGAMENTE Icon_minitimeQua Out 07, 2009 12:30 pm

Terminavam-se as colheitas (searas), começava-se a desgrelar as carvalheiras dos alqueves, queimava-se para que a grade dos bois gradasse (arrojasse a terra. Se houvesse tempo embelgava-se.
Recolhiam-se algumas colheitas atrasadas, e tapavam-se ou faziam-se algumas cabanas.

Segundo me contou o tio António, já lá vão uns bons anos, em Setembro apanhava-se o milho de dia e descamisava-se à noite. Lá pela noite a dentro cantava-se e bailava-se. Eram as célebres descamisadas, quadro rico da cultura da tradicional portuguesa onde a moda das “saias” se cantavam a despique. E o tal milho preto que às vezes já se levava de casa, dava direito à “ beijoca”.
Depois de descamisado o milho (as massarocas) era estendido da eira e era malhado à moeira. Se fosse preciso trabalhava-se a noite inteiro, e hoje ninguém acredita que o trabalho era feito em ares de brincadeira, com alegria, porque trabalhar com uma moeira era uma arte.

Depois do milho malhado nem que fosse por um homem só, com um ancinho era tirado o carolo. Muita volta este trabalho tem a dar, para juntar bagrinho a bagrinho e depois limpar com a pá.

Ora bem, depois de limpo, quantos moios é que vai dar? Vai-se então buscar a e a vassoura para os sacos ensacar..

Depois de estar ensacado,
quantos moios é que deu?
Deu dois moios e um punhado
e quem adivinhou fui eu...
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