Moinhos, Azenhas e Moleiros
Diga-se antes de mais, que se tratava de uma actividade muito importante para a economia local, dado a agricultura ser a cultura predominante, e o pão ser na sua maioria cozido em casa.
Havia três modelos de moinhos —o “moinho de vento”,em que as “mós”eram movidas pelas “velas” que o vento fazia rodar;o “moinho de água” e a “ azenha”.O primeiro era movimentado por rodízios e o segundo por uma “roda” tipo alcatruzes.
Trigo, arroz, milho, cevada, aveia, tremoço bravo (para fazer estrume), tudo ali era moído.
Não se sentindo a falta de água em Montargil, especialmente nos anos 40/50/60 em zonas de cultura do arroz a mesma faltava por vezes ,“chupada”, absorvida pelas respectivas “searas”.
Entretanto, como funcionavam estas “moagens” de antigamente? Foi o senhor Artur do Moinho, que um dia me contou...
Dizia-me ele que o trabalho era de vinte e quatro horas por dia, pelo que à noite quando se deitavam---a mulher também lá trabalhava-- deixavam uma “muega” cheia de “pão” e tinham então um chocalho que quando o cereal se acabava caía para cima das pedras, fazendo um barulho que os acordava. Voltavam então a encher a “muega”.
Entretanto o pagamento do trabalho do moleiro era feito à “maquia”, primeiramente “à medida” mais tarde ao peso. Tinham eles a percentagem de 12%. Mas antes, e segundo nos disse o senhor João Maria Godinho a maquia a pagar era a diferença de medida entre a quantidade de grão entregue e de farinha feita.
Por vezes eram os clientes que iam ao moinho levar o pão (o cereal), as mulheres à cabeça e os homens às costas, mas de uma maneira geral eram os moleiros que iam de carroça buscar o pão e levar a farinha a casa dos fregueses. Por exemplo, o senhor Artur trabalhou com uma carroça (puxada por um burro) mas também com uma parelha (que como se sabe, puxava a um carro).
O aparecimento das moagens foi o fim dos moinhos. Mas ainda nessa altura (1995), creio que foi o ti Piança que mo disse, se justificava que pelo menos um moinho trabalhasse, dado que dava para uma família se governar e a farinha tinha outra qualidade. Para que o “pão” ficasse melhor, era preciso misturar os trigos, o trigo de barba preta (o trigo rijo) com o trigo mole, o que na moagem, que já existia, não se fazia.
Refira-se entretanto que moinhos a trabalhar ainda existiu uma “moagem” na Quinta.
Entretanto, alguns pormenores importantes para uma melhor compreensão do funcionamento dos moinhos.
Cada moinho tinha dois “casais”de pedras, um para o milho (de granito rijo) e outra para o trigo. Em ambos os casos, de vez em quando tinham que ser picadas nas lajes com um “picão”. Os outros cereais eram moídos nas pedras que fossem consideradas os mais apropriados para efeito.
Conta-me o Manuel Carlos que era na oficina do avô, nas oficinas da família ou nas antecedentes, que os “picões” eram feitos e aguçados, assim como outros serviços, caso do “empenar” a “roda” (usada na “azenha). Mas aqui não se entenda “empenar” como entortar mas como colocar “penas”.
Refira-se entretanto que o pagamento destes serviços era feito em farinha, trimestral semestral ou mesmo anualmente, conforme o combinado.
Foram muitos os moinhos que existiram em Montargil.Recuando no tempo, registamos a existência, claro que não em simultâneo, de três ” moinhos de vento”— Guarita, Biquinha, e no largo onde hoje existe o jardim; de uma “azenha” (Abertas de Baixo---Joaquim Fouto); e de treze “moinhos de água”— no Vale Carvalhoso (José Inácio, António Miguel, Francisco Godinho, Joaquim Manuelzinho e Júlio Branco), em Montalvo (Manuel “Piança”), no Montinho (António Pires Nunes), no Rasquete (António Vicente, Manuel Vicente, João Mendes Catarino) o “Moinho da Ribeira”( Luis Bento),o “Moinho do Mocho”no final do Vale de Margem e o do Porto Velho.
Os moinhos a que nunca faltava água eram os de “Montalvo”, da “Ribeira” e o do “Porto Velho” e que só as cheias do rio Sôr faziam parar.
Já em 1758, as Memórias Paroquiais referem que o rio Sor, entre o Tejo e o Guadiana é o mais caudaloso,” porque quanto conserva as suas águas com que continuamente moem os moinhos, e na força do Verão vão a ele, de muitas terras da província do Alentejo, moer o pão, pelos seus rios secarem nesse tempo e este conservar suas águas. Seis engenhos de moinhos moem continuamente.”
Lino Mendes[/size][/font]