Conversas
Curtas hoje com Nuno Fragoso
Com a adesão de duas dezenas de interessados, e ministrada pelo jovem Nuno Fragoso, está a decorrer, aos fins-de-semana durante três meses, uma “formação” sobre “Língua Gestual”.
É mais um projecto GP (Grupo Promoção) aberto a toda a população.
Lino-Dizes-me que não se trata de linguagem gestual. Qual a sua designação correcta, e quais as suas vantagens?
Nuno-Em primeiro lugar, corrijo o termo “linguagem gestual”. Tratando-se de um sistema linguístico, com as suas regras de articulação bem definidas, a comunidade de surdos e todos os seus envolventes preferem designá-la por língua e não por linguagem gestual. Assim, tal como falamos em língua portuguesa (e não linguagem portuguesa), também designamos este sistema por Língua Gestual.
A Língua Gestual (LG) é, portanto, uma língua que se apoia no gesto como forma de expressão. Como língua autónoma e independente, tem os seus próprios vocábulos e a sua organização é particular. Desta forma, os gestos que preconiza não se organizam sintacticamente como as palavras e as frases da Língua Portuguesa. Isto cria dificuldades à criança surda quando entra para a escola.
Por seu turno, o Cued Speech é uma técnica pensada para que o surdo possa receber a Língua do país de origem (neste caso, o Português) através da via visual, tal e qual como um ouvinte a recebe pela audição. A mão acompanha cada sílaba à medida que é falada, clarificando o discurso.
As vantagens relacionam-se directamente com o facto de o surdo conhecer a língua oficial do seu país ao invés de conhecer exclusivamente uma outra língua orientada por gestos. Isto faz com a descodificação das palavras e das frases dos textos seja facilitada no momento da aprendizagem escolar. As crianças que aprendem este sistema de comunicação aperfeiçoam a sua capacidade de ler nos lábios e o conhecimento da língua do seu país é de tal modo, que podem compreender diferentes interlocutores em situações variadas. Assim, os surdos são integrados na sociedade por possuírem a Língua do país e usufruem de uma maior liberdade de escolha quanto ao trabalho.
Lino--Acontece que agora na Televisão, usa-se a linguagem gestual. Será que esta nova linguagem irá também ser ensinada aos respectivos interlocutores?
Nuno--O Cued Speech foi desenvolvido em 1966 na França. Como qualquer sistema recente, teve de passar por uma série de experiências a fim de se perceber a sua utilidade e, essencialmente, a sua pertinência.
Numa primeira fase, desenvolveram-se aprendizagens dirigidas a crianças surdas, bem como aos respectivos familiares e profissionais próximos, como educadores e professores. Observou-se, depois, o sucesso académico destas crianças nos primeiros anos escolares e concluiu-se que o sistema era eficaz e que permitia à criança uma boa aprendizagem da sua língua de origem. Depois, numa segunda fase, o sistema teve que ser adaptado a cada língua. Assim, só à relativamente pouco tempo é que o Cued Speech tem vindo a ser divulgado e ensinado em Portugal.
Pelo contrário, a Língua Gestual já tinha sido implementada há mais tempo. Apesar de algumas crianças terem aprendido este sistema mesmo depois de comunicarem através da língua gestual, não faz com que haja mais comunicadores de Cued Speech do que de LG.
Desta forma, a opção de se comunicar por LG na televisão é aceitável já que permite que um número superior de surdos receba a mensagem. Se se comunicasse via Cued Speech, muitos dos telespectadores surdos não entenderiam, pois desconhecem ainda o sistema.
Lino--A partir desta formação está prevista alguma acção na mesma linha de actuação?
Nuno--Estamos a desenvolver as aprendizagens. No final, se os formandos comunicarem sem dificuldades, não excluímos a hipótese de contactar uma Associação a fim de possibilitarmos o contacto e a comunicação com surdos.
Lino Mendes[/size][/font]