Entrevista
“Nunca haverá um travão para a subida do preço do petróleo”
Ana Maria Gonçalves
16/05/10 16:30
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As atenções do mundo começam a concentrar-se no novo gás natural retirado do xisto.
O alerta é de Jacqueline Weaver, uma das referências mundiais na regulação do mercado petrolífero. Em entrevista ao Diário Económico, aponta alguns dos novos caminhos a trilhar.
Até quando a actual crise global pode ajudar a travar a subida do petróleo?
Nunca haverá um travão para a subida do preço do petróleo. Estão sempre a acontecer coisas. Ninguém sabe o que poderá acontecer com uma exploração ‘off-shore' ou na Nigéria.
O pico de produção de petróleo já foi atingido?
É verdade que a produção de petróleo atingiu um máximo nos EUA. Um famoso geólogo da Shell disse que o pico ia acontecer em 1973 e foi atingido em 1973. Depois aplicou o mesmo modelo em relação ao resto do mundo. E estabeleceu-se um consenso de que, provavelmente por volta de 2025 ou 2030, o mundo atingiria o pico do que se chama de petróleo convencional e que a produção decresceria a partir daí.
Há muitas teorias sobre o assunto ....
O petróleo convencional é um petróleo barato. Mas há biliões de barris de petróleo não-convencional, que é muito mais difícil de extrair, como é o caso das areias betaminosas do Canadá ou o ‘shale oil' (petróleo de xisto), de que os Estados Unidos têm enormes reservas, mas que é difícil de produzir e ainda não é comercializável. Se o preço for suficientemente alto, o que provavelmente irá acontecer, porque penso que nunca mais voltaremos a ter petróleo barato, estes recursos serão explorados.
As energias renováveis são a solução para o aquecimento global?
São parte da solução. Actualmente, elas são fortemente subsidiadas e Espanha começou agora a reduzir esses prémios, que eram muito generosos. Não sei o que Portugal vai fazer, possivelmente irá fazer o mesmo, pois todos os Governos têm grandes dívidas e não podem continuar a dar-lhes subsídios. Mas, daqui a 15 anos, qual será a tecnologia das renováveis? Pode haver muitos progressos, mas de forma alguma poderão substituir o gás natural e o petróleo. Até porque todo o sistema de transportes está muito assente em combustíveis fósseis.
O mundo deve investir na energia nuclear?
Creio que cada país deve tomar a sua decisão. A grande preocupação, especialmente nos Estados Unidos, é onde se guardam os resíduos. Não há solução para isto. Agora estão a ser armazenados ao lado das centrais, o que não é seguro contra ataques terroristas. Há um programa de garantias a longo prazo para as duas centrais nucleares que vão ser construídas nos Estados Unidos, as primeiras em cerca de 40 anos. Os números que tenho indicam que serão tão caras que realmente não faz sentido investir nelas quando se compara com o gás natural.
Quais são os valores?
Começaram por prever que o custo seria de 3.000 milhões de dólares [2,4 mil milhões de euros], mas já vão em 6.000 milhões [4,8 milhões de euros]. Dizem que as novas centrais nucleares são mais seguras e mais fáceis de operar, mas não vimos nada disso.
Podem as novas descobertas de petróleo no Brasil alterar a geoestratégia do petróleo?
Não serão tanto as descobertas de petróleo no Brasil que provocarão uma mudança na geoestratégia, mas sim o gás de xisto, especialmente na Polónia. O gás de xisto é uma novidade tão recente que nem constava dos relatórios de há dois anos. Isso prova como a indústria do petróleo pode mudar tão rapidamente.
Como?
O gás de xisto está encurralado na rocha, cuja dureza impede que ele se escape. Nos Estados Unidos inventámos uma tecnologia para fracturar esses reservatórios, injectando milhões de metros cúbicos de água e assim libertando o gás. Era muito difícil extraí-lo e não era rentável. Mas agora conseguimos torná-lo rentável. Este gás de xisto existe em muitas zonas do mundo e pode ser transformado em electricidade ou reduzir a dependência de gás natural russo. Se a Europa encontrar gás de xisto, imagine como isso altera a geopolítica. Haverá decerto muita tecnologia nova que tornará a exploração mais amiga do ambiente.
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