Paradoxo
Sexta-feira, 21 Maio, 2010 in Largo de Alcanizes | Tags: josé manuel monteiro, paradoxo | by jclages
Os últimos dias têm-se revelado cheios de paradoxos.
São os banqueiros que representando uma parte conservadora da sociedade apregoam alto e a bom som que são necessárias mudanças e rupturas, terminologia muito utilizada pela ala mais progressista da sociedade.
Mudar e ruptura significa no essencial alterar, cortar, interromper, seja com práticas assumidas, seja com pensamentos ou formas de actuação.
Se reflectirmos sobre o que os banqueiros dizem ser preciso mudar, passa muito pela concepção de um emprego seguro e para toda a vida e consequentemente pela necessidade de flexibilizar.
Pensemos contudo, o que é exigido quando um simples mortal vai a um banco pedir um financiamento ou mesmo simplesmente abrir uma conta bancária. Pedem justificativos do «Emprego», «situação no emprego», «anos de trabalho na entidade patronal», etc, etc…
Então Senhores Banqueiros em que ficamos: Emprego precário ou emprego seguro?
Pensemos igualmente em práticas usadas antes da crise, pelo sector bancário.
Telefonemas sucessivos para aceitação de créditos, com um simples «Sim aceito»;
Envio de cartões de crédito a serem activados com simples telefonemas;
Saldos de contas com valores acrescidos de uma percentagem do saldo médio a ser possível utilizar quando fosse necessário;
Financiamentos autorizados sem análises ou análises mal feitas do risco a eles associados;
etc. etc.
E fizeram estas campanhas sabendo que se o crédito não tivesse retorno, haveria uma entidade – Estado – que viria em socorro do sector.
Então Sr. Banqueiros, depois de terem sido os principais responsáveis pela crise, e os Estados dos vários países terem vindo ao vosso encontro rejeitam o papel desses Estados na economia?
Sucedem-se debates televisivos, onde passeiam pensadores económicos, quase todos antigos governantes, antigos gestores públicos, ou actuais responsáveis não só pelo pensamento como pelas práticas económicas dos últimos anos.
De um modo geral os debates acabam por «concluir» que os portugueses gastam acima das suas possibilidades e ganham acima da sua produtividade. A este respeito reproduzo aqui um mail recebido nestes dias:
É preciso que se saiba
«… que os portugueses comuns (os que têm trabalho) ganham pouco mais de metade (55%) do que se ganha na zona euro, mas os nossos gestores recebem, em média:
– mais 32% do que os americanos;
– mais 22,5% do que os franceses;
– mais 55 % do que os finlandeses;
– mais 56,5% do que os suecos.»
(dados de Manuel António Pina, Jornal de Notícias, 24/10/08).
– mais 68% do que os australianos;
– mais 74% do que os neozelandeses.
(dados do «Labour Department» australiano).
E, acreditem ou não, a Austrália esteve fora da crise económica…
Mudar… afinal estas mudanças não passam de adaptações obrigatórias para que o sector financeiro continue a fomentar e a alimentar o sistema capitalista selvagem das ultimas décadas e permitir que esse sector continue a ter lucros escandalosos como os que continua a ter em épocas de falência e desemprego acelerado.
Mudar.. é preciso. Mas, para alterar à escala internacional as politicas económicas que conduziram a mais uma crise do capitalismo.
«Largo de Alcanizes», opinião de José Manuel Monteiro
http://capeiaarraiana.wordpress.com/2010/05/21/32912/