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| | NICOLAU SAIÃO | |
| | Autor | Mensagem |
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linomendes
Número de Mensagens : 328 Data de inscrição : 16/06/2010
| Assunto: NICOLAU SAIÃO Qui Out 20, 2011 4:49 pm | |
| Caríssimos confrades e amigos
Como não há duas sem três, como dizia Agostinho da Silva aquando da sua célebre detenção no Porto e antes de rumar ao Brasil, na segunda quinzena de Novembro estarei - se o clima não se alterar bruscamente, impedindo as deslocações no meio da neve e do frio gauleses - em Tours primeiro e em Paris depois, a apresentar o livro de Jules Morot "Du logis chez les chiens" e, aproveitando o ensejo papando-lhe outro jantar na "Maison Davinette", entreposto onde brilham as iguarias muito frequentado pelo poeta, que a sabe toda em matéria de petisqueiras francófonas, pronunciarei uma palestrazita que intitulei, com aprumo claramente alentejano "Solidão e aventura na obra de Brito Camacho", que era como se sabe um activo político que nada tinha a ver com os cleptocratas que neste momento por aí vulgarmente exibem a pança ou a esquelética robustez... Aproveito para informar que, conforme me alertam de S.Paulo, vai dentro em pouco estar nos escaparates (com um belíssima capa, de acordo com a minha sagaz correspondente) o meu livro "As vozes ausentes", tomo de cerca de 300 páginas de prosa (com prefácio de Maria Estela Guedes) que seguramente me dará e aos leitores muitas complacências e alegrias e que, conforme penso bem assim como o nosso Simões, me levará definitivamente às prisões da República pois, a páginas tantas, eu casco com vigor nos...Mas cala-te boca, não nos antecipemos ao acontecimento - tanto mais que hoje por hoje, para um enorme sucesso de vendas, o que é preciso é ir o Autor dentro e assim...Mas não digo mais, os confrades amigos já entenderam e não ponho mais na carta...como diz a expressão vernácula. E como esta hoje vai num registo que denota emoção de fino humor e contentamento perceptível - dou-vos em anexo, para fazer contraste, dois apontamentos que publiquei no Diário de Notícias, tristes e macambúzios pois se referem a Portugal e à tourada (passe a expressão) que nele se desenrola actualmente. Com o proverbial abraqson e o bjh da ordem, fica com estima o vosso ns[/size][/size][/size][/font][/size][/font]
Última edição por linomendes em Qui Out 20, 2011 5:00 pm, editado 1 vez(es) | |
| | | linomendes
Número de Mensagens : 328 Data de inscrição : 16/06/2010
| Assunto: CONTINUIDADE Qui Out 20, 2011 4:53 pm | |
| 1. “Pensões vitalícias de ex-políticos poupadas a cortes. Governo revela que pensões de políticos reformados não serão, como as dos restantes cidadãos, objecto de corte”. (O meu comentário no DN): Eu creio que os actuais governantes, talvez por falta de lucidez, não perceberam ainda que é muito perigoso efectuarem estas discriminações. Eu, juro, tenho medo que com estas ingenuidades (ou não ingenuidades, o que seria muito mau) um dia alguém perca a calma e faça algo de irreparável. Como sucedeu em Itália antes do "Mãos Limpas", em Viarrégio. (Seis membros da Promotoria foram enforcados pelos populares enfurecidos e vilipendiados, nas tílias que bordejavam a Praça Vitoria Regina, depois derrubadas para apagar vestígios da tragédia). Nessa altura pode estar-se no princípio do fim do regime. Como bola de neve, todo o pus virá ao de cima. E quando isso começa não se sabe como acaba. Seria bom que os governantes procedessem com equidade. É a paz da Nação que está em jogo! Há que dar ouvidos ao bom senso.
1. “Militares vão reunir-se no sábado para reflectirem sobre a situação no País” (Idem) É importante, com efeito, que os militares discutam o estado da Nação e, mais concretamente, o estado da política, da magistratura e das forças de vigilancia do cidadão (vulgo serviços secretos). Mas não é lícito que o façam para traçarem planos de como ajudar a vilipendiar o Povo e a Pátria, de como apoiar os manejos dos mandantes e dos ex-mandantes que nos levaram à beira do caos. A terem de algum dia agir, que ajam para salvação das pessoas em geral e da Nação concretamente, responsabilizando as ditas "forças vivas" que agora prejudicam o dia a dia societário. E o Povo, não o dos partidos e empenhos mas o Povinho que labuta e sofre, lhes agradecerá. Viva Portugal!
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| | | linomendes
Número de Mensagens : 328 Data de inscrição : 16/06/2010
| Assunto: 2 de junho Sáb Jun 02, 2012 5:56 pm | |
| Como disse Leucipo, na frase canónica que muitas vezes é dita de outro modo mais "moderno", o azeite, como é mais leve que a água, fica sempre por cima, tal como a verdade, pois é mais leve que a mentira. E é de facto assim. Embora, por vezes,se sinta que ela demora a chegar - muito mais quando é entravada por sistemas lentos ou capturados em parte por sectores pervertidos, estimulados por mídias corrompidos eticamente ou decididamente canalhas. Refiro-me ao embuste que durante anos rodeou os portugueses, muitos dos quais ingenuamente e de boa-fé, quero crer, atacavam e caluniavam e difamavam quais autómatos (mas a pressão infame era muita...!) Fátima Felgueiras - anteontem como decerto terá visto nos órgãos de informação TOTALMENTE ABSOLVIDA em sentença confirmada pela Relação e vinda na sequencia da absolvição em primeira instancia. Como decerto saberá, por razões familiares eu tive conhecimento directo deste caso: assisti às calúnias que eram lançadas sistematicamente, vi tudo dum ponto privilegiado, por diversas vezes tomei posição contra os que - ora ingenuamente, ora nefandamente - lançavam lama tentando aniquilar um ser humano, assassinar-lhe o caracter por razões pérfidas. E a maior parte nem sequer o conhecia, apenas "emprenhava pelos ouvidos" como sói dizer-se, manipulados por periódicos que tentavam o sensacionalismo e a "verdade de pacotilha". Também a mim me coube ser caluniado, enxovalhado e difamado nomeadamente, em acção, por um blogue e, por omissão, por um indivíduo que deu nessa medida certa "credibilidade" ao acto. Não pode estranhar-se que em breve o meu advogado avance com processos-crime, pois como diz o povo "quem não se sente não é filho de boa gente". E certas coisas não podem passar-se por alto! Para onde tentaram que fosse a verdade honrada nesta Nação à beira da desgraça económica? E passando a outro assunto: hoje em dia, em certos meios, a impostura pedante está a tentar aproveitar-se da inocencia dos cidadãos. É isso que se releva, com frontalidade e ironia, no bloco que junto vos deixo(também em linha no Ablogando), com o velho abraqs de estima. Fica cordialmente o vosso ns
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| | | linomendes
Número de Mensagens : 328 Data de inscrição : 16/06/2010
| Assunto: NS Sex Jun 22, 2012 11:58 pm | |
| Tenho para mim que sim. Mormente quando o Poeta se chama António Salvado. Eu creio que os confrades concordarão, ademais de o saberem (sentirem?). Mas nunca será de mais sublinhá-lo. Em setenta e picos, por razões muito próprias, tive ensejo de em Paris, num dos cafés emblemáticos daquela cidade, estar um bom pedaço (levado por confrades que sabiam juntar o conhecimento material ao espiritual) a conversar com um dos homens que se iria tornar uma lenda no século transacto... Falou-se de muita coisa e, de entre elas, de arte nas suas diversas vertentes. Depois,levado por dois desses...cavaleiros, almocei num bistrot de ali ao pé (tripas à moda de Caen...parecidas com as do Porto mas com um travo peculiar e específico). No final, para acompanhar as maçãs de Sermoncelle, um petit Napoléon para rebater. E foi então que um deles, tirando-se de seus cuidados, me contou uma pequena estória que muitos anos mais tarde eu encontraria citada, ainda que de modo mais ligeiro, num livro doado pelo confrère Cesariny: sendo membro destacado da Resistencia, o tal nosso anterior conviva foi a dada altura capturado pelos nazis e encafuado em Neue Bremme, um dos mais sinistros campos de concentração do universo hitleriano. Cerca de três meses depois de lá chegar tinha de se apresentar, em certos dias marcados de antemão, numa dependencia específica para ser espancado, o que era feito com requintes. Ora acontece que ele, assim que entrava, antes de receber o primeiro murro ou bofetão, punha-se a tocar por dentro da cabeça trechos de música, dos muitos concertos a que assistira. Umas vezes era Bach, outras Schubert, outras mesmo Beethoven ou Chopin... "Foi isso, conta ele no tal livro (e aqui uma pequena maldade minha: não digo quem era essa lenda humana, pesquisem um pouco, ora toma...!) que me ajudou a resistir. Nunca conseguiram quebrar-me". Não sei se essa receita serviria para mim. O que posso dizer é que em alturas dolorosas da minha existência, a frequentação da grande poesia, nacional e estrangeira, me ajudou a ultrapasar esses tempos enegrecidos. E, em todo o caso, em qualquer período difícil a arte é uma boa companheira. Como dizia Rilke, "um verso, um trecho de pintura ou uma melodia podem iluminar o nosso céu interior". Então, para um pouco mais de claridade no fim de semana que aí temos à porta, hoje proponho-vos a voz límpida e fremente, ainda que serena, de António Salvado. Que tudo vos siga correndo bem é o que vos deseja com estima o ns
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| | | linomendes
Número de Mensagens : 328 Data de inscrição : 16/06/2010
| Assunto: nicolau saião Sáb Jun 23, 2012 1:02 am | |
| Conforme o convite anexo (que mais servirá, ou exactamente servirá, para um contacto com a Autora e o evento, pois não será viável a viagem - mas que bom seria dispormos de um flying saucer para deslocações super rápidas, neste caso a Fortaleza, cidade que vos atesto ser uma delícia à beira do mar... Aqui vos deixo, para uma leve degustação, dois poemas da Aíla (que em Julho estará de visita a Lisboa, depois rumando a Paris) bem assim como o texto que lhe dediquei e inserido numa "orelha" do volume. E que tenham um muito bom fim-de-semana é o que vos deseja, com os habituais e cordiais abrqs e bjh, o vosso n.
------------------------------------------------- Silêncio antigo Há sempre uma casa com seu silêncio antigo e seus conhecidos fantasmas a nos habitar. Há sempre a memória de um amor interdito, a dar a ilusão de que a felicidade está apenas no que poderia ter sido.
O tempo vivido desliza, guardando abismos que devoram a carne do tempo. O que nos pertence é apenas o presente e a certeza de que eterno é somente o que não se realiza. A cidade A cidade me esconde entre ruas e esquinas, perdida em mim como suas avenidas entre semáforos e arranha-céus.
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| | | linomendes
Número de Mensagens : 328 Data de inscrição : 16/06/2010
| Assunto: Para purgar azias civilicionais Dom Jul 08, 2012 5:42 pm | |
| Para purgar azias civilizacionais
Alguns poemas de índios norte-americanos seguidos de alguns poemas do eterno feminino
Albert Einstein – que era alguém que sabia o que dizia e como o dizia - referiu num texto notável (“Como eu vejo o Mundo”) - que a nossa civilização, por obra e graça duns quantos fabianos, estava a sucumbir ao cinismo e à pseudo-sofisticação. Parece-me que esse Homem tinha razão.
O cinismo e a burla interior, aliás, tanto podem partir da acção de homens públicos desqualificados como de operadores intelectuais que tentam dar relevo a gente sem ética para servir os seus espúrios manejos de falsificadores de relacionamentos societários. São todos do mesmo jaez e ainda que ajam em diferentes áreas fazem parte da mesma armadilha civilizacional. Ora, para os confrades e amigos sentirem o contacto com uma dada realidade específica, aqui lhes deixamos poemas feitos por gente profundamente ligada à natureza e que infelizmente soube à própria custa o que era ser alvo de videirinhos e de genocidas interiores e exteriores.
Mas obviamente não só os índios foram, durante muito tempo, espiritual e materialmente afastados da salutar norma civil e cidadã através de manejos que alguns controladores estabeleceram de maneira insidiosa para melhor acautelarem os pretensos direitos de domínio, que capturaram e que tentam sempre imperativamente lhes caibam.
Para além dos homens (na sua parte de qualificação relacional) sofrerem os embates da subalternização provocada por organismos de mando (serem, por exemplo, forçados a participar em escaramuças e guerras mesmo que o não queiram), também as mulheres têm sido (e em grande parte continuam a ser) com frequência abusadas nos seus direitos específicos mormente quando, mediante uma insidiosa “lavagem ao cérebro” até pseudo-educacional a que muitas não resistem, se lhes torce a condição de parte indispensável no binómio homem-mulher que fundamenta o percurso próprio no mundo dos afectos.
Isto para já não falarmos nos casos limites - que devem cair nos domínios do foro criminal pois são verdadeiros atentados à existência salutar – perpetrados em países ou comunidades norteadas por pretensas normas “religiosas e culturais” que não são mais que políticas de controle abusivo.
Os poemas que aqui se deixam são uma celebração desses dois mundos.
Poemas índios
Todo o sudoeste é uma casa Feita de penumbra. Foi feita de polén E de chuva. A terra é antiga e durará Para sempre. Há muitas cores nas colinas E na pradaria e uma vegetação sombria Cobre a montanha ao longe. A terra é fértil e forte E a beleza enche tudo à nossa volta.
(Pueblos)
Saiu a lua, branca como a folha do machado E o meu machado é uma lua pequena O sangue do alce brotará sob a lua Unirá a lua grande e a lua pequena E o fogo da vida será como um sol No coração dos caçadores.
Machado, agradeço-te o fogo da vida Alce, agradeço-te o fogo da lua Da grande e da pequena lua Vê que vais viver para sempre no nosso coração E serás o sol e as pequenas luas Grandes como o fogo que circula No interior da floresta.
(Ojibway/Chipewa)
Somos as estrelas, entoando Um canto com a nossa luz. Somos os pássaros de fogo Voando pelos espaços. O nosso brilho é uma voz Que traça o caminho aos espíritos Para que eles possam passar. Entre nós três caçadores Procuram caçar um urso. Nunca houve tempo algum Em que eles o não caçassem. Do alto olhamos os montes E é esta a canção das estrelas.
(Algonquins)
No tempo da morte Quando eu vi que a morte me procurava Fiquei espantado. Tudo se destroçava. A minha casa Tristemente tive de a deixar. Olhei para longe Enviei o meu espírito para norte Para sul, leste e oeste, tentando escapar à morte. Mas nenhum lugar encontrei Já não havia caminho de fuga. (Luiseño) Trad. Ns
Do eterno feminino MADRUGADA
No interior a polpa: um nó convulsamente preso na carne feita para amar No exterior partículas tão exactas e puras como um dia. No depois das paredes nesse ar que se dissipa nesse negrume fixo e já disperso - para sempre encontrado - o clarão que nos une e que nos leva entre as horas e os tempos, entre vozes que findam.
A cor o mundo o nome eternamente nossos
MAGNÓLIAS
Naquela terra não havia magnólias. À beira dos caminhos nos jardins e nos pequenos vasos de flores dentro das casas as mulheres e os floristas cultivavam aspidistras rosas-chá, malmequeres e pequenos bolbos de tulipas vermelhas. Um namorado, certa vez, colocou na botoeira um girassol. Meninas dos colégios assustavam-se e, correndo pelos parques faziam esvoaçar contra a luz candente da tarde pequenas flores campestres.
Então, um dia, apareceu na cidade um hortelão que num pequeno cesto tinha um pano multicolor sobre algo que não se conhecia.
Uma jovem destacou-se de entre os demais e disse-lhe qualquer coisa em voz sumida. E o hortelão olhou-a longamente. E depois principiou a andar devagarinho. E na rua começou a espalhar-se uma penumbra que de repente todos perceberam que iria doravante ficar ali para sempre.
DOIS CÊNTIMOS DE AMOR SMS
Dois cêntimos, ou seja: quatro escudos No tempo das luzes sobre as casas E das árvores apenas com o conhecimento de quem se ia Quase para sempre - Um pacotinho de rebuçados dos de açúcar e anis, Duas mãos cheia de ervilhanas, Três mãos de pevides, Dois selos para cartas vulgares ou especiosas Uma esmola pelos que lá se tinham, Três maçãs, Meia hora ao bilhar, Meia hora de ping-pong, Quatro carteirinhas de bonecos da bola, Uma vela para alumiar mortos e vivos.
Não dá contudo para mandar uma mensagem. Mas se desse que poderia obter-se? Um olhar? Um trejeito? Um começo de frase? Uma palavra encantada e tão terrena? Um “e eu também”? Um “mas” seguido de um silêncio interrogativo? Ou um simples beijo luminescente e natural?
Ou nada disto – apenas um suspiro, um resto de respiração?
Como findar o poema? Com a mão posta No teu cabelo? Ou com um olhar que se recusa a partir? Que dois cêntimos são tão pouco. Que dois cêntimos são tanto.
Assim sendo, eu te digo com uma voz antiga E feita agora mesmo (pois que vozes não há feitas A não ser quando se trocam os tempos Contra o fluir do tempo, puros e imarcescíveis):
Dou-te dos meus rebuçados Dou-te um selo para que me escrevas Dou-te ervilhanas, as mais belas que tiver Um pedaço de sorriso A melhor maçã O meu mais doce beijo para que a amargura não nos fira
Com o seu silencio e a sua luz que fulmina.
POEMA
Uma coisa pequena quase inútil, afeiçoada no dia tão vaga na noite afastada nas horas do mundo calada porque não mais que objecto achado algures.
Além do elemento vegetal para todos os anos como diminuto utensílio só para ser olhado nem sequer pensado De só ser visto
pelos olhos amados.
ANUNCIAÇÃO
As mulheres do vento parado como um planeta extinto as mulheres doentes as mulheres que cantam com surpresa o seu vestido estranho como uma renda como uma absurda mancha as mulheres do meu dia como um peso de cores distintas
entre mim e o céu
Entram pela minha boca e censuram-me docemente
Aqui, diz uma, puseste o horror de um velho instante ali, diz outra, não deixaste repousar os devaneios Há uma que paira, como se me fitasse a direito, com as mãos junto da testa, perto dos olhos, os lábios palpitando estremecendo como uma pétala sobre a água Mulheres de negro, afagando pastas de couro em lojas improváveis escrevendo em papéis antigos fórmulas de gentileza Mulheres que a diabetes assolou como praga medieval mulheres de pernas como lírios rosados andando ao longo duma estrada francesa as árvores coloridas formando uma cortina imprecisa
Job de rosto erguido amargo senhor das angústias a sua face trémula tão igual à do Senhor na noite de suor e remorsos a sua mulher por detrás, arrepanhando as vestes
Dizei-me mulheres onde com que luz a vossa fotografia se encarquilhou na madeira queimada das velhas casas onde medrava a guerra Vós sois o sustento dos pontos cardeais
Lembro-me de ti, Marion, o rosto rodando como um guindaste e o fumo que soltavas com um meneio elegante da mão esquerda o fumo espalhado no parque abandonado os olhos tranquilos frios A rua solitariamente sob a noite de Junho e o cão o velho cão dos bosques que trotava muito devagar
A vossa figura palpitante, mulheres, irisada obscura à luz frouxa da manhã e o frio subindo até às portas como um animal a morrer.
VOZ DE AMOR
Não te direi poemas e sim vulgares palavras - como café, cadeira, naco de pão, um copo de água para refrescar os minutos ou “cuidado com o carro” ou “que te deu?” ou ainda “não estejas triste, está aqui a minha mão”. Palavras com que se fazem os poemas mas agora só presas ao natural de um dia, ao natural do tempo ao natural de quem fala com as palavras todas. Palavras como “pena”, como “chuva” ou então “já é noite!” e “o dia foi tão rápido”, palavras que irão cair dentro de um bolso, no coração fendido, nos olhos perdidos até na música que reboa dentro de um peito ausente palavras seja de perdão seja de febre, palavras apenas sons sobre a angústia da tarde. E a palavra “alegria” e a palavra “segredo” e aquelas palavras que se não dizem ou se dizem quando as palavras findam por já não precisarem senão de silêncio entre duas bocas que serenamente se calam. Sim, e as palavras desaparecidas e as que não viveram e as que saudamos como companheiras de viagem que reconhecemos e com quem trocamos um olhar porque as palavras sabem esperar no escuro e é nesse escuro que aguardam o seu momento palavras breves que nos amaram por fora de nós que nos conhecem que sempre nos haverão de conhecer
palavras como “ontem” como “depois” como “sempre”
palavras que já não estão em nós pois existem em nossa volta são o nosso ar e o nosso sangue
o nosso momento infinito.
SOLENIDADE
Porque me pedes o que não tenho Rosas aos quilos, nuvens no mar Um comboio louco p’los campos fora A suspirar a transpirar
Porque me mostras coisas tão belas Um anjo cego sobre um altar Um cantor surdo na passerelle A suspirar a transpirar
Porque me dizes coisas profundas Um som de flauta para encantar Um tiro no peito dum marinheiro A suspirar a transpirar
Porque me dás quarenta beijos E uma imagem subliminar E um pontapé no baixo ventre A suspirar a transpirar
Porque me assustas porque me espantas Porque me fazes admirar Os deuses que andam nas avenidas A suspirar a transpirar
Só sei que tenho a voz aflita De me rir tanto de protestar Por me obrigares a andar aos tombos A transpirar a suspirar.
FASHION
Em todo o tempo as há, mas no Verão nota-se mais. Lá vão elas andando desfilando como estátuas hieráticas com tudo, contudo, no lugar. E são brancas e pretas, ruivas e morenas e louras e de cabelinho rapado para ficarem exóticas, ex-ópticas aos nossos olhos em bico em bugalho em riste como binóculos de apreciadores de corridas de cavalos ou de paisagens longínquas. A umas os seus construtores/construtoras querem que apreciemos as partes de cima, outros/outras as partes de baixo – e nós, que sabemos apreciar ver coruscar como faróis na noite olhamos principalmente o que as suas construtoras construtores não lhes fizeram/costuraram mas lhes foi dado pela natureza o acaso a simples e boa elegância que ou se tem ou se não tem, raios. Elas lá vão deslizando como borboletas numa serena manhã de verão ou ao entrar da noitinha. Meninas, lindas meninas, qual de vós o vosso ideal e os/as que as miram escrutinam remiram sentem por vezes um frémito um arrepiozinho que acrescenta um tremeluzir na passerelle. Como se fosse o ring em que se batem contra a fealdade do tempo e a beleza da idade. Como se não fossem apenas estátuas hieráticas mas pessoas andando desfilando no quotidiano dum mundo reconfigurado e liberto.
CALABAZAS *
Eu sou o que sou vegetal e mineral, fruto e animal no inverno no verão em cima da cama e numa cozinha sobre a mesa com copos e garrafas Sou pintada sou disposta em arco-íris como alguém que ri e alguém que chora como uma artista submergida como um retrato emergente ando de roda rastejo voo sobre os rios e os ventos os montes e as chamas nas lareiras sinto a terra nas mãos balbucio a dormir assusto-me fico presa a um objecto tão belo como a escuridão antes da manhã depois de anoitecer
Tenho muitos nomes que de repente desaparecem cabacinha pintada de azul amarelo cabacinha pintada de preto vermelho e sou outra vez eu e faço o pino danço adormeço e os sonhos saem pela cabeça e ficam a pairar perto das paredes.
Sou cabaça sou pessoa sou madeira e pedra e lume e ardósia e papel ramagens ensolaradas casas que se abrem e fecham no dia inteiro e na tarde de todos os silêncios e ruídos ao longe.
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| | | linomendes
Número de Mensagens : 328 Data de inscrição : 16/06/2010
| Assunto: Para purgar azias civilicionais Dom Jul 08, 2012 5:44 pm | |
| Para purgar azias civilizacionais
Alguns poemas de índios norte-americanos seguidos de alguns poemas do eterno feminino
Albert Einstein – que era alguém que sabia o que dizia e como o dizia - referiu num texto notável (“Como eu vejo o Mundo”) - que a nossa civilização, por obra e graça duns quantos fabianos, estava a sucumbir ao cinismo e à pseudo-sofisticação. Parece-me que esse Homem tinha razão.
O cinismo e a burla interior, aliás, tanto podem partir da acção de homens públicos desqualificados como de operadores intelectuais que tentam dar relevo a gente sem ética para servir os seus espúrios manejos de falsificadores de relacionamentos societários. São todos do mesmo jaez e ainda que ajam em diferentes áreas fazem parte da mesma armadilha civilizacional. Ora, para os confrades e amigos sentirem o contacto com uma dada realidade específica, aqui lhes deixamos poemas feitos por gente profundamente ligada à natureza e que infelizmente soube à própria custa o que era ser alvo de videirinhos e de genocidas interiores e exteriores.
Mas obviamente não só os índios foram, durante muito tempo, espiritual e materialmente afastados da salutar norma civil e cidadã através de manejos que alguns controladores estabeleceram de maneira insidiosa para melhor acautelarem os pretensos direitos de domínio, que capturaram e que tentam sempre imperativamente lhes caibam.
Para além dos homens (na sua parte de qualificação relacional) sofrerem os embates da subalternização provocada por organismos de mando (serem, por exemplo, forçados a participar em escaramuças e guerras mesmo que o não queiram), também as mulheres têm sido (e em grande parte continuam a ser) com frequência abusadas nos seus direitos específicos mormente quando, mediante uma insidiosa “lavagem ao cérebro” até pseudo-educacional a que muitas não resistem, se lhes torce a condição de parte indispensável no binómio homem-mulher que fundamenta o percurso próprio no mundo dos afectos.
Isto para já não falarmos nos casos limites - que devem cair nos domínios do foro criminal pois são verdadeiros atentados à existência salutar – perpetrados em países ou comunidades norteadas por pretensas normas “religiosas e culturais” que não são mais que políticas de controle abusivo.
Os poemas que aqui se deixam são uma celebração desses dois mundos.
Poemas índios
Todo o sudoeste é uma casa Feita de penumbra. Foi feita de polén E de chuva. A terra é antiga e durará Para sempre. Há muitas cores nas colinas E na pradaria e uma vegetação sombria Cobre a montanha ao longe. A terra é fértil e forte E a beleza enche tudo à nossa volta.
(Pueblos)
Saiu a lua, branca como a folha do machado E o meu machado é uma lua pequena O sangue do alce brotará sob a lua Unirá a lua grande e a lua pequena E o fogo da vida será como um sol No coração dos caçadores.
Machado, agradeço-te o fogo da vida Alce, agradeço-te o fogo da lua Da grande e da pequena lua Vê que vais viver para sempre no nosso coração E serás o sol e as pequenas luas Grandes como o fogo que circula No interior da floresta.
(Ojibway/Chipewa)
Somos as estrelas, entoando Um canto com a nossa luz. Somos os pássaros de fogo Voando pelos espaços. O nosso brilho é uma voz Que traça o caminho aos espíritos Para que eles possam passar. Entre nós três caçadores Procuram caçar um urso. Nunca houve tempo algum Em que eles o não caçassem. Do alto olhamos os montes E é esta a canção das estrelas.
(Algonquins)
No tempo da morte Quando eu vi que a morte me procurava Fiquei espantado. Tudo se destroçava. A minha casa Tristemente tive de a deixar. Olhei para longe Enviei o meu espírito para norte Para sul, leste e oeste, tentando escapar à morte. Mas nenhum lugar encontrei Já não havia caminho de fuga. (Luiseño) Trad. Ns
Do eterno feminino MADRUGADA
No interior a polpa: um nó convulsamente preso na carne feita para amar No exterior partículas tão exactas e puras como um dia. No depois das paredes nesse ar que se dissipa nesse negrume fixo e já disperso - para sempre encontrado - o clarão que nos une e que nos leva entre as horas e os tempos, entre vozes que findam.
A cor o mundo o nome eternamente nossos
MAGNÓLIAS
Naquela terra não havia magnólias. À beira dos caminhos nos jardins e nos pequenos vasos de flores dentro das casas as mulheres e os floristas cultivavam aspidistras rosas-chá, malmequeres e pequenos bolbos de tulipas vermelhas. Um namorado, certa vez, colocou na botoeira um girassol. Meninas dos colégios assustavam-se e, correndo pelos parques faziam esvoaçar contra a luz candente da tarde pequenas flores campestres.
Então, um dia, apareceu na cidade um hortelão que num pequeno cesto tinha um pano multicolor sobre algo que não se conhecia.
Uma jovem destacou-se de entre os demais e disse-lhe qualquer coisa em voz sumida. E o hortelão olhou-a longamente. E depois principiou a andar devagarinho. E na rua começou a espalhar-se uma penumbra que de repente todos perceberam que iria doravante ficar ali para sempre.
DOIS CÊNTIMOS DE AMOR SMS
Dois cêntimos, ou seja: quatro escudos No tempo das luzes sobre as casas E das árvores apenas com o conhecimento de quem se ia Quase para sempre - Um pacotinho de rebuçados dos de açúcar e anis, Duas mãos cheia de ervilhanas, Três mãos de pevides, Dois selos para cartas vulgares ou especiosas Uma esmola pelos que lá se tinham, Três maçãs, Meia hora ao bilhar, Meia hora de ping-pong, Quatro carteirinhas de bonecos da bola, Uma vela para alumiar mortos e vivos.
Não dá contudo para mandar uma mensagem. Mas se desse que poderia obter-se? Um olhar? Um trejeito? Um começo de frase? Uma palavra encantada e tão terrena? Um “e eu também”? Um “mas” seguido de um silêncio interrogativo? Ou um simples beijo luminescente e natural?
Ou nada disto – apenas um suspiro, um resto de respiração?
Como findar o poema? Com a mão posta No teu cabelo? Ou com um olhar que se recusa a partir? Que dois cêntimos são tão pouco. Que dois cêntimos são tanto.
Assim sendo, eu te digo com uma voz antiga E feita agora mesmo (pois que vozes não há feitas A não ser quando se trocam os tempos Contra o fluir do tempo, puros e imarcescíveis):
Dou-te dos meus rebuçados Dou-te um selo para que me escrevas Dou-te ervilhanas, as mais belas que tiver Um pedaço de sorriso A melhor maçã O meu mais doce beijo para que a amargura não nos fira
Com o seu silencio e a sua luz que fulmina.
POEMA
Uma coisa pequena quase inútil, afeiçoada no dia tão vaga na noite afastada nas horas do mundo calada porque não mais que objecto achado algures.
Além do elemento vegetal para todos os anos como diminuto utensílio só para ser olhado nem sequer pensado De só ser visto
pelos olhos amados.
ANUNCIAÇÃO
As mulheres do vento parado como um planeta extinto as mulheres doentes as mulheres que cantam com surpresa o seu vestido estranho como uma renda como uma absurda mancha as mulheres do meu dia como um peso de cores distintas
entre mim e o céu
Entram pela minha boca e censuram-me docemente
Aqui, diz uma, puseste o horror de um velho instante ali, diz outra, não deixaste repousar os devaneios Há uma que paira, como se me fitasse a direito, com as mãos junto da testa, perto dos olhos, os lábios palpitando estremecendo como uma pétala sobre a água Mulheres de negro, afagando pastas de couro em lojas improváveis escrevendo em papéis antigos fórmulas de gentileza Mulheres que a diabetes assolou como praga medieval mulheres de pernas como lírios rosados andando ao longo duma estrada francesa as árvores coloridas formando uma cortina imprecisa
Job de rosto erguido amargo senhor das angústias a sua face trémula tão igual à do Senhor na noite de suor e remorsos a sua mulher por detrás, arrepanhando as vestes
Dizei-me mulheres onde com que luz a vossa fotografia se encarquilhou na madeira queimada das velhas casas onde medrava a guerra Vós sois o sustento dos pontos cardeais
Lembro-me de ti, Marion, o rosto rodando como um guindaste e o fumo que soltavas com um meneio elegante da mão esquerda o fumo espalhado no parque abandonado os olhos tranquilos frios A rua solitariamente sob a noite de Junho e o cão o velho cão dos bosques que trotava muito devagar
A vossa figura palpitante, mulheres, irisada obscura à luz frouxa da manhã e o frio subindo até às portas como um animal a morrer.
VOZ DE AMOR
Não te direi poemas e sim vulgares palavras - como café, cadeira, naco de pão, um copo de água para refrescar os minutos ou “cuidado com o carro” ou “que te deu?” ou ainda “não estejas triste, está aqui a minha mão”. Palavras com que se fazem os poemas mas agora só presas ao natural de um dia, ao natural do tempo ao natural de quem fala com as palavras todas. Palavras como “pena”, como “chuva” ou então “já é noite!” e “o dia foi tão rápido”, palavras que irão cair dentro de um bolso, no coração fendido, nos olhos perdidos até na música que reboa dentro de um peito ausente palavras seja de perdão seja de febre, palavras apenas sons sobre a angústia da tarde. E a palavra “alegria” e a palavra “segredo” e aquelas palavras que se não dizem ou se dizem quando as palavras findam por já não precisarem senão de silêncio entre duas bocas que serenamente se calam. Sim, e as palavras desaparecidas e as que não viveram e as que saudamos como companheiras de viagem que reconhecemos e com quem trocamos um olhar porque as palavras sabem esperar no escuro e é nesse escuro que aguardam o seu momento palavras breves que nos amaram por fora de nós que nos conhecem que sempre nos haverão de conhecer
palavras como “ontem” como “depois” como “sempre”
palavras que já não estão em nós pois existem em nossa volta são o nosso ar e o nosso sangue
o nosso momento infinito.
SOLENIDADE
Porque me pedes o que não tenho Rosas aos quilos, nuvens no mar Um comboio louco p’los campos fora A suspirar a transpirar
Porque me mostras coisas tão belas Um anjo cego sobre um altar Um cantor surdo na passerelle A suspirar a transpirar
Porque me dizes coisas profundas Um som de flauta para encantar Um tiro no peito dum marinheiro A suspirar a transpirar
Porque me dás quarenta beijos E uma imagem subliminar E um pontapé no baixo ventre A suspirar a transpirar
Porque me assustas porque me espantas Porque me fazes admirar Os deuses que andam nas avenidas A suspirar a transpirar
Só sei que tenho a voz aflita De me rir tanto de protestar Por me obrigares a andar aos tombos A transpirar a suspirar.
FASHION
Em todo o tempo as há, mas no Verão nota-se mais. Lá vão elas andando desfilando como estátuas hieráticas com tudo, contudo, no lugar. E são brancas e pretas, ruivas e morenas e louras e de cabelinho rapado para ficarem exóticas, ex-ópticas aos nossos olhos em bico em bugalho em riste como binóculos de apreciadores de corridas de cavalos ou de paisagens longínquas. A umas os seus construtores/construtoras querem que apreciemos as partes de cima, outros/outras as partes de baixo – e nós, que sabemos apreciar ver coruscar como faróis na noite olhamos principalmente o que as suas construtoras construtores não lhes fizeram/costuraram mas lhes foi dado pela natureza o acaso a simples e boa elegância que ou se tem ou se não tem, raios. Elas lá vão deslizando como borboletas numa serena manhã de verão ou ao entrar da noitinha. Meninas, lindas meninas, qual de vós o vosso ideal e os/as que as miram escrutinam remiram sentem por vezes um frémito um arrepiozinho que acrescenta um tremeluzir na passerelle. Como se fosse o ring em que se batem contra a fealdade do tempo e a beleza da idade. Como se não fossem apenas estátuas hieráticas mas pessoas andando desfilando no quotidiano dum mundo reconfigurado e liberto.
CALABAZAS *
Eu sou o que sou vegetal e mineral, fruto e animal no inverno no verão em cima da cama e numa cozinha sobre a mesa com copos e garrafas Sou pintada sou disposta em arco-íris como alguém que ri e alguém que chora como uma artista submergida como um retrato emergente ando de roda rastejo voo sobre os rios e os ventos os montes e as chamas nas lareiras sinto a terra nas mãos balbucio a dormir assusto-me fico presa a um objecto tão belo como a escuridão antes da manhã depois de anoitecer
Tenho muitos nomes que de repente desaparecem cabacinha pintada de azul amarelo cabacinha pintada de preto vermelho e sou outra vez eu e faço o pino danço adormeço e os sonhos saem pela cabeça e ficam a pairar perto das paredes.
Sou cabaça sou pessoa sou madeira e pedra e lume e ardósia e papel ramagens ensolaradas casas que se abrem e fecham no dia inteiro e na tarde de todos os silêncios e ruídos ao longe.
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| | | linomendes
Número de Mensagens : 328 Data de inscrição : 16/06/2010
| Assunto: 31/08/012 Sex Ago 31, 2012 9:49 pm | |
| macaco e a essência Tempos atrás vi na TV uma cena que me esclareceu para sempre sobre as misérias e as grandezas da actividade pública – política, religiosa, militar, desportiva, judicial. Com um famoso condutor de massas, um desses seres excepcionais que movem multidões? Nem por sombras! O protagonista que me elucidou foi um humilde vigarista de bairro. Melhor dizendo: modesto, insinuante. Com uma forma de estar na vida que depressa conquistou – pois participava num talk show posto a correr por uma esbelta serigaita das nossas noites televisivas – a assistência que o ouvia, quase fascinada. O inspector da polícia que em tempos o prendera, também presente no programa, bem se fartou de prevenir os espectadores de que era mesmo aquela a técnica de que o indivíduo se servia para perpetrar os seus golpes. E que propiciava que um simples mortal, depois de o ouvir, lhe entregasse tudo o que ele queria. “Já vos conquistou a todos!” - dizia o pobre chui (polícia) em desespero de causa – “ Digam lá se agora não entravam no negócio que ele vos propusesse…”. E o simpático vigarista, com um sorriso fraternal no rosto aberto e franco, saiu do cenário coroado por uma enorme salva de palmas. Eu e milhares como eu, decerto, acolhemos com proveito a inapreciável lição que ali nos fora dada. Lembrei-me disto e também de uma notícia referente ao ex-ministro Alain Joupé, que tinha tempos atrás sido condenado a 18 meses de prisão, com pena suspensa (é sempre pena suspensa a que estes ilustres cidadãos apanham), para além de 10 anos de impedimento de se candidatar a qualquer cargo – por ter cavilosamente manipulado uns dinheiritos chegados aos seus bolsos de forma esquisita. Ora o Supremo Tribunal, instado a pronunciar-se, reduziu para catorze meses a pena aplicada, além de considerar que lhe bastava um aninho de travessia do deserto. E o nosso homem agora soma e segue… Em 1999, num encontro sobre Literatura Policial numa cidade francesa, defendi a tese de que “o sistema judicial é o cancro que está a destruir a Democracia”, a qual foi bem acolhida pela assistência que me quis ouvir. E disse ainda que o sistema judicial politicamente correcto, eticamente corrompido até à medula, não o era devido a magistrados receberem dinheiros desta ou daquela entidade mas sim por no seu coração e no seu cérebro – com as naturais excepções - aceitarem o jogo de que os poderosos são seus irmãos de cena e portanto credores de cuidados especiais, aliás generosamente dispensados. Mediante o estatuto granjeado pelas suas qualificações pessoais – companheirismo de formatura, de família (pessoal ou política), lábia poderosa e poderoso desembaraço, preparação e cultura – o homem público cai no goto do vulgus pecus e daí em diante praticamente tudo lhe é consentido. Passou-se com Joupé como se tem passado com outros simpáticos safardanas europeus e mundiais, que quais sempre-em-pés logo se erguem e seguem triunfantes ou pelo menos perdoados mal os atira a terra uma vigarice ou um acto assacanado. Ou o simples desprezo que acalentam pelo povo, sobre o qual tripudiam com o beneplácito dum universo societário podre e complacente para com esses irmãos naturais, que aliás lhe pagam com juros deixando os seus próceres bem ancorados no seu específico conforto corporativo. E tudo isto é mais eficaz – e muito mais inquietante - que a simples vigarice dum tratantezito de bairro… in As vozes ausentes ns | |
| | | lino mendes Admin
Número de Mensagens : 869 Data de inscrição : 27/06/2008
| Assunto: NS Dom Set 16, 2012 10:44 pm | |
| Crear en Salamanca Nicolau Saiao (Portugal). XV Encuentro de Poesía Iberoamericana Nicolau Saião es el seudónimo de Francisco Ludovino Cleto Garção (Monforte do Alentejo, Portalegre, 1946). Es poeta, publicista, actor y artista plástico. En 1992 la Asociación Portuguesa de Escritores le concedió el Premio Revelação/Poesia por su libro Os objectos inquietantes. También ha publicado Assembleia geral (1990), Passagem de nível, teatro (1992), Flauta de Pan (1998) y Os olhares perdidos (2001). Están por salir de imprenta O desejo dança na poeira do tempo y Escrita e o seu contrário. En Brasil se publicó su antología Olhares perdidos (2006), en Mozambique apareció O armário de Midas (2008). También en Brasil se publicó su libro de prosas As vozes ausentes (2011). Colabora en revistas literarias de España, Portugal, Chile, México, Brasil, Francia o Argentina. Hasta su jubilación fue el responsable del Centro de Estudios José Régio. Retrato realizado por Miguel Elías POEMAS (*) Todos los poemas son inéditos en castellano y han sido traducidos por A. P. Alencart UNAMUNO EN EL MÁS ALLÁ, RECORDANDO LOS CAMPOS DE IBERIA No se llega al mundo por deseo expreso. Ni por amor siquiera. No es figura erguida o a ras de suelo ni roca en el paisaje pensada por tristeza y luego escrita: su sol, su mar, su multiplicado silencio de alegría. No hay voces ni figuras al descubierto, desapareciendo en el lugar de la piedra y tierra sentidas. Por un feliz instante, su brusca inclinación de sierras se prolonga entre las sombras del oscuro pensamiento de lo que se tuvo y se olvidó. Cosas que se palpan, se sujetan en la mano más que en los ojos idos para siempre. Aquí la geografía vista como si más o menos fuese arena o pizarra o fibrosa materia vegetal, o algo de que mucho tiempo después se hiciese utensilio preciso para trabajos perennes, como algo muy necesario para los minutos fugaces de la existencia: mesa limpia, suelo lavado y lo demás que completa las casas, la ropa y el relleno de vidas dispersas por los días: un adiós entre caminos que perpetúan – la peña tocada, las plantas vivaces y el agua que se pensó no existir sino en lejanísimos parajes desconocidos. No existir sino en la voluntad o en remotas soledades. Y palomas, palomas junto a mí y pegadas al cielo. No en la palabra, no en cosas sobre la silueta que nos rodeó (ese templo no lo que fue nuestro o que ni siquiera tuvimos nunca pero sí que era solamente una imagen o música difusa) y es la prolongada inmensidad, el perfil de una memoria, el gesto de cabeza rodando, de rostro herido un paso y otro paso entre montañas al amanecer. O su recuerdo en momentos de amargura y mientras la tierra espera su fulgor de eras distantes de rumores de voces de un sonido de puerta batiendo cerrando o irguiendo el día En la mano que se suspende y dibuja después el principio y el fin esperado de todos los siglos de las noches de la última mañana. ANUNCIACIÓN Las mujeres del viento detenido como un planeta extinto las mujeres enfermas las mujeres que cantan sorprendidas o su vestido extraño como un encaje como una absurda mancha las mujeres de mi día como un exceso de colores distintos entre mí y el cielo Entran por mi boca y me reprenden dulcemente Aquí, dice una, pusiste el horror de un viejo instante allí, dice otra, no dejaste descansar los devaneos Hay una que acecha, como si me mirase fijamente, con las manos junto a la cabeza, cerca de los ojos, los labios palpitando estremeciéndose como un pétalo sobre el agua Mujeres de negro, acariciando carteras de cuero en tiendas improbables escribiendo en cuadernos antiguos formulas de amabilidad Mujeres que la diabetes asoló como plaga medieval mujeres de piernas como lirios rosados caminando a lo largo de una carretera francesa los árboles coloridos formando una cortina imprecisa Job de rostro erguido amargo señor de las angustias su rostro trémulo tan similar a la del Señor en la noche de sudor y remordimientos su mujer por detrás, arrebatando las ropas Decidme mujeres dónde con qué luz vuestra fotografía se arrugó en la madera quemada de las viejas casas donde medraba la guerra Vosotros sois el sustento de los puntos cardinales Me acuerdo de ti, Marion, el rostro rodando como una grúa y el humo que soltabas con un elegante movimiento de la mano izquierda el humo esparcido en el parque abandonado los ojos tranquilos fríos La calle solitariamente sobre la noche de junio y el perro el viejo perro de los bosques que corría muy despacio Vuestra figura palpitante, mujeres, irisada oscura a la luz tenue de la mañana y el frío subiendo hasta las puertas como un animal que muere ALEGRÍA Un huerto, casas y gente: una epidermis sobre la Tierra. La crispación de una presencia inesperada. La tristeza perfecta de un árbol o de un animal sobre el muro. El sonido ausente de tantos años: aquello que genera un profundo sufrimiento EN LA COCINA Dioses que entran y salen con el pan la fruta un botijo de agua un gesto de manos uno con la barriga al descubierto dos tres años qué sabrá de su tiempo futuro interroguémonos La mamá pone los ojos en el aire así son los sueños recorridos por lugares insondables áfrica américa el llanto del filósofo encubre al Sol con sus manos enflaquecidas acaricia un hombro el más pequeño mira hacia un rincón el rastro de algún familiar abuelos sobrinos comadres un burrito blanco junto al montón de dalias Si amáis las bellas canciones id hasta el principio de la noche. (Valle del Jerte, 2000) RELIQUIA ¿Dónde está el silencio, dónde yace el silencio? No en este brazo sucio cortado No en esta tupida alfombra en este taco de apuntes donde se cruzan insultos rimas No en el pequeño perímetro de las venas -al final todo todo entre nubes de carbono semejantes a un aliento de campesino sobre la nieve donde se aplastaban insectos y excrementos de lobo El primo mayor antaño me lo enseñó en un mes adolescente. Dónde en qué isla de desolación sofocado incierto yace ese soberano silencio zurcido por marcas de cuchillo de piedra No no hay ruido de un paso que camina hacia la belleza de un rostro saliendo de un vaciadero hasta el lodo musgoso de la orilla Brillante como celofán El silencio que respira Sí el silencio calido de quien busca el vacío o de quien busca un color dentro de la carne recordada de la mano hambrienta de muchos oscuros anhelos El silencio que se recoge que se desdobla que nos recuerda de instantes y pérdidas El silencio que permutamos El silencio más allá de la luz entre los ojos de una fiera muerta. ns | |
| | | lino mendes Admin
Número de Mensagens : 869 Data de inscrição : 27/06/2008
| Assunto: N.Saião Sáb Set 22, 2012 11:50 pm | |
| Caros confrades e amigos/as Não, não venho falar-vos de absurdo e de desespero - apesar de tudo o que se passa e, temo, irá passando no país, na nação, na pátria. Como exemplo mínimo refiro-vos apenas, num segundo, isto que pude constatar pessoalmente: durante bastante tempo as leis que tinham a ver com a circulação automóvel foram deixadas ao deus dará. Com o típico desleixo das administrações e o típico desprezo para com o cidadão luso (?) as Finanças deixavam tudo no vago - e o cidadão desprevenido no vago ficava... Pois há meia-dúzia de dias, agora que o Estado está com as calças na mão e tenta, desesperadamente (digo eu com boa-vontade e carinho, pois se calhar o desespero é mas é nosso!) arranjar dinheiro dê lá por onde der, lembraram-se que haveria carros já na sucata ou mesmo já inexistentes, a quem chamar à pedra. Vai daí, mihares largos de pessoas começaram a receber da repartição de assuntos tributários, como agora se chamam aqueles serviços, cartas para que pagassem os selos de circulação desses antigos veículos já a fazer tijolo. E embora muitos, creio que se calhar todos ou quase todos, tenham apresentado ou estejam a apresentar declarações em como esses carros não circulam (porque não existem) há vários anos, vão ter que pagar selos - em paralelo aos que pagaram pelos carros que de facto utilizaram/utilizam a partir do falecimento dos outros. Ou seja e como se diria ironicamente, com uma magoada ironia: nos tempos de Salazar havia mortos que votavam, agora há carros fantasmas que circulam ainda que estejam há anos no pó dos cemitériosde popós, mortinhos da silva! Mas vamos ao que de facto importa, que isto foi apenas detalhe em tempos de crise (que nós povinho não provocámos, mas que teremos de pagar porque estamos cheios de pecado, para usar esta expressão para-religiosa...de alguns lúcidos comentadores! Quero eu dizer sim que vos remeto, em anexo, um texto analítico - que irá sair em diversos órgãos de comunicação, interactivos e não interactivos, no país e no estrangeiro - em que me debruço sobre um excepcional acervo de foto-colagens dum dos mais representativos autores brasileiros de hoje (como poeta e ensaísta, como tradutor e interventivo viajeiro em toda a América, sendo uma verdadeira placa-rotativa para confrades, para vozes da criação artística, para acções de criatividade em transversal postura): Floriano Martins, de que também vos dou em iluminação 4 dessas Máscaras a que o acervo se reporta e que foram o leit-motiv duma Exposição recente no país irmão. Bom fim-de-semana tanto quanto possível, vos deseja o vosso de sempre ns
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| | | lino mendes Admin
Número de Mensagens : 869 Data de inscrição : 27/06/2008
| Assunto: 23/09/012 Dom Set 23, 2012 3:16 pm | |
| O nosso colaborador (in Página de Cultura e Crítica Ablogando) Vicente Páscoa, deu uma entrevista a Hugo Novaes Filho, na secção do jornal de Artes editado pela Associação "Carré Rouge". Entre outros assuntos tendo a ver com o momento especial que a Europa atravessa, com Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha à cabeça, foi abordado especificamente o caso português, visto andarem - tanto pelos órgãos de informação como por certas autoridades - a serem descobertos crimes económicos da mais diversa índole que com a suspeita complacência, senão mesmo cumplicidade, de quadros do Estado e do sistema judicial, defraudaram e continuam a defraudar a Nação (ou seja, todos nós) em milhões de euros, o que agravou decisivamente o défice e o índice económico com resultados que todos conhecem. Para além de ter chamado a atenção para as surpreendentes revelações, claramente do foro do abuso societário, desmascaradas no programa "Sexta às 9" em boa hora dirigida pela jornalista Sandra Felgueiras - o vídeo está na Internet e sugerimos que o veja pois ficará estupefacto com ele e com o que foi descoberto pela investigação levada a efeito - Vicente Páscoa responde como segue a uma pergunta do entrevistador. Resposta essa que temos por límpida e certeira e, por isso, aqui a deixamos aos confrades para um minuto de leitura: "Sempre que alguém justamente indignado tece críticas à classe política, que se tem portado como uma quadrilha de lapidários, de ladrões e de videirinhos torpes, aparece de imediato um ou mais opinadores, ou escrevedores mesmo, a dizer que aqui d'el-rei que querem acabar com a democracia. De forma alguma. O que se deseja é acabar com os "gangsters" que, com o pretexto de serem políticos ou lhes andarem nas imediações, agem discricionariamente e se servem daquela retórica intimidatória, em última análise manipuladora e mentirosa, para seguirem em frente. Com o pretexto de "aprés moi le déluge". Pura encenação, pura velhacaria conceptual. Se em Portugal ainda vigora um Estado de Direito é necessário que o Presidente da República, que é o mais alto magistrado da Nação tendo por isso legitimidade para agir nos ramos que certificam as Instituições, mande investigar pelos organismos próprios todo o "processus legis" que enforma esse desiderato, uma vez que o país e a comunidade que este engloba, os cidadãos por extenso, têm sido gravemente prejudicados por esse verdadeiro polvo que é o mais representativo rosto da crise". Um bom domingo vos deseja o vosso, cordialmente, ns
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| | | lino mendes Admin
Número de Mensagens : 869 Data de inscrição : 27/06/2008
| Assunto: ns Qui Dez 20, 2012 12:57 am | |
| Torturou bebé, mas não foi preso Henrique Raposo, no Expresso: “Não invento, veio no jornal. No ano passado, um ser de 22 anos partiu o braço esquerdo, queimou os olhos, pés e lábios de um bebé de um ano. O ser ainda pontapeou o seu pequeno enteado nas pernas, nas costas e nos órgãos genitais. As marcas duraram 113 dias (internamento hospital). Na sexta-feita, o ser foi colocado em liberdade. Um indivíduo chamado Jorge Melo, juiz da 8.ª Vara Criminal, deu como provados os actos de violência, mas assinou uma pena suspensa; este juiz da República disse que estávamos perante um situação atroz e até afirmou que o réu mostrou indiferença perante os seus actos, mas não o puniu com prisão efectiva. Porquê? "O tribunal acredita que o simples risco de prisão é suficiente para não repetir crimes". Quando ouviu isto, o réu começou a rir”. Sim, Portugal está doente, mas a doença não é económica. É de outra espécie . * Esta notícia que devia ser surpreendente mas, no Portugal de hoje dominado por um regime cripto-fascista de fachada democrática tendencial já não surpreende ninguém, foi transformada num oportuno Post pelo meu/nosso confrade Manuel Graça e dado a lume no ABLOGANDO, Aos amigos e confrades estrangeiros, que aos portugueses não é necessário (eles andam nas ruas reais desta república quase irreal), esclareço que o ambiente produzido pelo pervertido, eticamente corrupto e anti-democrático Sistema Judicial (criminal e fascizante, seja na sua versão direitista ou pseudo-esquerdista) tal como o descrevi no meu texto, de que talvez se lembre, “O crime e a sociedade”, tem estado a agravar-se: já não se contam apenas pelos dedos os casos de injustiça propositada, orientada ou prepotências oriundas do mais deficiente sector da República Portuguesa, dominado por figuras duvidosas ou decididamente sinistras incrustadas nos cinzentos corredores onde estruturaram o seu poder abusivo desde o tempo do antigo regime salazarista. É necessário que os portugueses, individualmente ou em grupos conscientes, apresentem sucessivas queixas no Tribunal Penal Internacional (TPI), pois o que está em causa são reais crimes, judicialmente efectuados, contra a Humanidade. Só assim se conseguirá, no sector que descrevi como “o cancro que está a destruir a democracia possível”, o ar ambiente que chega a ser irrespirável, se modifique. É imperioso que certos áulicos sejam responsabilizados e, depois de o TPI democráticamente agir, com todos os direito de defesa que usa pôr em epígrafe, se verificados como culpados demitidos e metidos na prisão, pois é aí o seu lugar. Portugal não pode continuar a ser uma coutada de tendenciosos e de corruptos éticos! Eles não podem continuar a destruir a Pátria e os seus habitantes naturais! Viva a democracia, viva Portugal! Nicolau Saião
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