Antonio Mendes
Número de Mensagens : 823 Data de inscrição : 24/07/2008
| Assunto: Praça da Jorna Sex Jan 23, 2009 11:04 pm | |
| Era na rua principal, então chamada Rua Grande (hoje Rua do Comércio) e do Pailó à Praça ( por vezes a partir cá mais acima da taberna do Zé Gabirra) que aos domingos à tardinha se concentravam os que procuravam patrão. Era um mar de gente, que causava admiração a todos quantos nos visitavam, e a concentração era tal, dizem-me” que se lá de cima caísse uma laranja ela não chegava ao chão.
Era ali que trabalhadores e patrões (ou o manajeiro) regateavam preços e trabalho Por vezes acontecia, que o possível patrão estava na taberna ou no café, e era o “manajeiro” que ia servindo de intermediário, que lá, nas tabernas as mulheres não entravam . Chegávamos a arranjar trabalho já horas adiantadas, dizia-me a senhora Ramira, íamos para casa e como já tínhamos o farnel aviado púnhamos o cesto à cabeça e íamos embora para a Charneca. Refira-se que a figura do “manajeiro”/”capataz”não era muito bem vista pelos jornaleiros. Às vezes eram piores que o patrão, só não nos tiravam a pele se não pudessem. Contam-nos até que ao aproximar do sol-posto costumavam cantar: Vai-te sol, vai-te sol/ para trás do barracão/ alegria para o rancho/ tristeza para o patrão: Ou então: Vai-te sol, vai-te sol/ para trás do outeiro/ alegria para o rancho/ tristeza para o manajeiro.
Houve quem mais tarde chamasse “ mercado de escravos” a esta “praça da jorna”, com o que de modo algum posso concordar.,até porque ali ninguém era vendido. Claro que a exploração do homem pelo homem era uma realidade, pois de modo algum a “jorna” compensava o esforço e o sacrifício que lhes era exigido, mas isso é outra história. Ali ninguém ia para onde não queria, e até se pelo caminho alguém oferecesse mais, mesmo sem avisar quem o/a tinha já contratado/a, era para esse que ia trabalhar. E era para compensar estas situações, que no dia seguinte, na segunda-feira, logo cedinho, havia outra “praça da jorna” mas agora na Farinha Branca.
Face às dificuldades com que essas gerações se depararam, hoje toda a gente nasce rica, e acham muita graça quando lhe contamos que as moças que viviam no campo, só à entrada da vila se calçavam, descalçando-se no mesmo sítio quando do regresso, pois havia que poupar o calçado.
E ainda há dias a senhora Ramira a que já me referi, me dizia, que quando iam trabalhar para Almeirim, faziam o caminho em dois dias, a pé , levando o farnel e as mantas à cabeça, dormindo no meio do mato..
Com o 25 de Abril e as “ocupações”, era inevitável que a “ praça da jorna” acabasse, mas em 1976 ainda se realizou, para falar a gente para as vindimas. Lino Mendes | |
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pedrolopes
Número de Mensagens : 353 Idade : 46 Localização : https://www.youtube.com/user/pedrolopes777 Data de inscrição : 20/09/2008
| Assunto: Re: Praça da Jorna Ter Jan 27, 2009 7:48 pm | |
| Tal e qual como o meu avô custuma relatar... | |
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