O ABC
do Folclore
Por que não arranjam uns fatos mais garridos para as mulheres? Músicas, temos bonitas, mas de vez enquanto podiam dançar de maneira diferente. Ora, quem coloca estas questões, não sabe o que é folclore, não sabe o que é um grupo folclórico. E aquilo a que aqui nos propomos é, em linguagem simples, tentar explicar questões dessa natureza.
Ora, e a começar, folclore é a ciência que estuda tradições, os usos e costumes das gentes de antigamente, quando os seus contactos com outras gentes se resumiam a deslocações sazonais de trabalho, isolamento que começou a ser esbatido com o aparecimento da telefonia que surgiu em Montargil por alturas da Guerra de Espanha.
Digamos que os nossos estudos incidiram sobre os anos 20/30 do século passado, pelo que o nosso Rancho deve, o mais parecido possível, trajar, cantar e bailar como fazia a nossa gente dessa época. E o mesmo faz ou devem fazer os grupos de outras regiões em relação às mesmas.
Um Rancho deverá ser, assim, um Museu Vivo da região em que se insere.
Diga-se, entretanto, que há regras para se saber se um facto (uma cantiga, por exemplo) é ou não folclore. Para o ser, há factores a considerar:
1) -Ser de autor anónimo isto é, embora tendo tido e como é natural, um autor, com o decorrer dos anos e as transformações que involuntariamente o povo lhe foi imprimindo, o mesmo perdeu-se na memória dos tempos e a peça caiu no domínio público; passou a ser do povo.
2)-Ter sido transmitida por via oral, e adoptada por uma comunidade isto é, se por exemplo um trajo foi usado por duas ou três famílias que o viram em determinado lado, gostaram e o passaram a usar, não é folclore. É o caso, por exemplo—e folclore não é apenas cantar e bailar mas toda uma vivência de um povo—de terem existido toiros e campinos nos Leitões,
e isso não poder ser considerado como da tradição.
Diga-se porque importa fazê-lo, que mais de metade dos grupos que por aí andam dizendo-se de folclore, não o são. Não é o caso, porém, dos que vêm participando no nosso Festival Nacional de Folclore, todos eles creditados como representativos pela Federação do Folclore Português, o que igualmente acontece com o nosso.
Lino Mendes