No encerramento
dos JOGOS LITERÁRIOS DE MONTARGIL 2011
Que a poesia seja um laço fraterno a nos unir, como unidas são nossas Pátrias.
Carolina Ramos(Brasil)
Mas POR QUÊ a “quadra popular” e o “conto curto”?
Quanto à “quadra popular”ou melhor à”quadra ao gosto popular”,porque se trata do género literário em que o povo melhor se expressou e expressa, construindo numa linguagem simples verdadeiras jóias da filosofia e da sociologia. Por entre montes e vales, serras aldeia e montes o povo continua a fazer-se ouvir:
À guerra não ligues meia/porque alguns grandes da terra/vendo a guerra em terra alheia/não querem que acabe a guerra.
Quatro linhas: palavras simples; verdade indesmentível.
E da QUADRA nasceu a TROVA que hoje é cultivada no Brasil como “obra de arte”.Não são a mesma coisa, há quem diga. A quadra ,referem ,pode ser feita sem métrica e com versos brancos, sem rima. Na verdade há quem faça versos sem que seja poeta , mas a quadra popular rege-se pelos mesmos princípios da Trova:
Carolina Ramos, uma autoridade na matéria, Presidente da Academia de Trovas do Brasil, diz-nos:
No Brasil, onde o Movimento Trovadoresco é bem intenso, a TROVA é um género considerado bastante popular. Chamamos de TROVA POPULAR ou POPULARIZADA, àquela que, ao perder a paternidade, caminha autónoma, sem o nome do autor, passando a ser de domínio público, ao virar folclore.
A definição de TROVA, aprovada pela UBT, União Brasileira de Trovadores, é a seguinte: “Composição poética, composta de 4 versos septisilábicos, rimando o 1º verso com o 3º e o 2º com o 4º verso, ABAB. E com sentido completo. Há outras disposições de rimas, porém a mais usada e admitida em Concursos, é a que segue o esquema ABAB. Há ainda as trovas de rima simples, que rimam apenas o 2º e o 4º verso, mas estas, mais fáceis de serem feitas, acabaram por serem excluídas dos certames, embora continuem válidas, se obedecerem os demais requisitos. O facto de terem apenas uma rima, pode lhes emprestar maior sentido popular, mas não o bastante para que sejam chamadas de Trovas POPULARIZADAS. Voltando à pergunta, no meu entender, a TROVA (denominação mais usada no Brasil) é a mesma QUADRA PORTUGUESA, tão popular em Portugal, quanto por aqui. E, para nós brasileiros, só deixará, de ser TROVA, quando distanciada dos requisitos essenciais, acima descritos. E, principalmente, se não disser tudo o que deva dizer, em apenas quatro versos.
E passando ao CONTO CURTO, digamos que é uma tentativa de levar os potenciais participantes a desenvolverem o tema em poucas palavras.
Entretanto, há um “género poético-popular” que me preocupa dado não se verificar o aparecimento de novos cultores. A DÉCIMA.
Será que se trata de uma modalidade em vias de extinção?
Aqui fica a opinião abalizada de FERNANDO MÁXIMO:
A experiência de pertencer á organização dos Jogos Florais de Avis, leva-me a concluir que quem faz poesia em décimas são as pessoas de mais idade. As décimas são de difícil execução, têm regras fixas para serem elaboradas e para serem umas décimas bem feitas, não chega colocar as palavras que rimam no sítio onde é preciso rimar. Além de rimar as palavras têm que fazer sentido, têm que ter uma certa consistência de raciocínio e por vezes isso é difícil de acontecer.
Partindo de uma quadra, o mote, este é depois desenvolvido por mais quarenta versos, o que leva a que as décimas também sejam conhecidas pelos mais idosos como “obras de quarenta pontos”. Como disse atrás, as décimas antigamente eram feitas por quem passava o dia no campo com o gado e sozinho ia pensando nas agruras da vida. A maior parte desses fazedores de décimas não sabiam ler nem escrever. Mas sabiam as regras das décimas. E faziam-nas. E decoravam-nas. Ainda hoje há por aí muito poeta, infelizmente analfabetos, que sabem muitas décimas de cor e que se encontram apenas registadas nas suas memória
E aqui fica um exemplo com a qualidade a que
JOSÉ DA SILVA MÁXIMO
,nos habituou e que com a devida vénia fomos buscar
mesmo à vista DO CASTELO
De um para outro momento
Perde o homem o seu vigor;
Falta-lhe a força, o alento
P’ra fazer seja o que for.
Será que o homem é valente
Cada vez que necessita
E sempre que solicita
As forças que ainda sente?
Não será suficiente
A força do seu talento!
Se não está a cem por cento
Há sempre o inesperado,
Fica impossibilitado
De um para outro momento.
Passam anos, passam dias
Quase não se vai notando
Que o corpo se vai vergando
E vai perdendo energias;
São menos as alegrias,
E menor o seu valor,
O prazer se vira em dor
Com o avançar da idade,
P’ra trás fica a mocidade
Perde o homem o seu vigor.
Já teve uma vida sã,
Já foi forte e destemido,
Se hoje não está deprimido
Nunca se sabe amanhã;
Se a esperança não é vã,
Se tudo vem de contento,
A falta de deprimento
São forças que ainda tem,
Mas p’ra chegar mais além
Falta-lhe a força, o alento.
Sempre que isso lhe acontece
Ao perder sua energia
Fica de dia p’ra dia
Mais lento do que parece;
Tenta esquecer mas não esquece
Não sente o mesmo calor,
Até mesmo no amor
Nada há que o conforme,
Desenvolve o esforço enorme
P’ra fazer seja o que for![/size][/font]