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| Assunto: LURDES BREDA Sex Set 09, 2011 2:35 pm | |
| À CONVERSA COM... LURDES BREDA É uma boa escritora. Uma mulher admirável Sabe que por aqui é como se estivesse em casa. Foi entrevistada pelo Independente de Cantanhede. Quis connosco partilhar a entrevista.
Tem uma obra literária bastante fértil. Quando é que descobriu que era este o seu caminho?Penso que foi este caminho que me descobriu a mim… As coisas foram acontecendo muito naturalmente. Ao longo do tempo, tenho cultivado, sobretudo, a paixão pela escrita e pela leitura. A edição é um prolongamento disso mesmo, uma necessidade de partilha com os outros. Escrevo com prazer redobrado quando sei que as minhas palavras chegarão às pessoas. Acaba por ser um acto de afectividade.
Foi fácil ou difícicil editar o primeiro livro?Não foi fácil. Aliás, nunca é muito fácil editar… Talvez por isso tenha um sabor especial e não mergulhe na banalidade de cada livro ser “apenas” mais um livro. Além disso, as dificuldades funcionam quase como um estímulo a mim mesma. il editar o primeiro livro?Seguramente que quando alcançamos as coisas pelas quais lutamos, estas têm um “sabor” diferente.
Nas suas várias obras já publicadas divide-se entre a poesia e a ficção com a infância e a juventude por perto. A que se deve esta dispersão?Gosto de explorar as várias vertentes e aceitar as possibilidades que a escrita oferece como um desafio. Esta versatilidade constitui um auto-conhecimento às minhas capacidades enquanto “fazedora de histórias”. Muitas vezes, no dia-a-dia, escrever para adultos ou para crianças depende apenas do estado de espírito.
Além do que escreve a solo, é uma mulher de parcerias. Isso é importante para si?Sem dúvida! Aliar a escrita a outras formas de arte (como por exemplo a música, a dança, a ilustração e o teatro) representa uma mais-valia a vários níveis. Esta interdisciplinaridade ajuda, inclusive, a promover nos leitores o interesse pela escrita e pela leitura. E eu saio muito mais enriquecida pela convivência e pelo conhecimento que absorvo daqueles com quem trabalho.
No seu currículo conta com alguns prémios. Pode dizer-se que funcionam como alento para continuar?Com certeza que sim. É fundamental que ao prazer da escrita se junte a convicção de que se escreve bem. A qualidade literária é importante! Estes prémios acabam por ser o resultado de uma análise àquilo que escrevo. É bom saber que apreciam o meu trabalho, embora tenha noção de que é necessário continuar a aprender e a evoluir.
A mãe e o pai dão título a dois dos seus livros de poesia. Sente que os seus pais foram os culpados deste caminho positivo que vem percorrendo?A mãe e o pai estão sempre ao meu lado, assim como uma série de familiares e amigos. Apesar deste caminho ter sido traçado por mim, talvez não o tivesse trilhado se estas pessoas maravilhosas não estivessem ao meu lado. São as pessoas de quem gosto que dão sentido à minha vida e àquilo que faço.
A componente infanto-juvenil está muito presente nas suas obras. Porquê?Escrever para crianças e jovens é mais difícil do que para adultos. Portanto, é um desafio maior e mais apetecível. Acabo por deixar livres, nas páginas que escrevo para eles, tantas das minhas personagens e fantasias de menina. É bom manter viva esta parte dentro de mim. Ajuda-me a ver o mundo e os outros com mais esperança e alegria.
Bastante activa, tem vindo a marcar presença em feiras do livro, sessões em escolas, concursos literários e outros eventos. O que este corre-corre representa para si?Adoro sentir-me ocupada e útil. Sinto-me realizada por saber que faço alguma diferença nos lugares por onde passo. Principalmente, quando estou com tantos meninos diferentes em inúmeras escolas do país. Todos os eventos são importantes à sua maneira e ensinam-me a “saber estar” e a comunicar melhor com os outros, independentemente da situação.
Como encara o futuro, o seu futuro?Sou uma pessoa muito positiva e optimista. Tenho sempre tendência para ver o lado bom, mesmo nos acontecimentos mais negativos. Mas também sou bastante realista e sei que vou continuar a deparar-me com muitas dificuldades… Cá estarei para as ir ultrapassando, conjuntamente com todos aqueles de quem gosto e que gostam de mim.
Como se define, como mulher e como escritora?A mulher e a escritora estão em sintonia. Ambas se apresentam com simplicidade, obstinação, optimismo, alegria, realismo, sonho, poesia e, acima de tudo, com a paixão pelas letras. Acredito ser sensível aos outros e aos problemas que marcam a nossa sociedade. Quer a nível literário, através da escrita, quer a nível pessoal, tento denunciar e minorar alguns desses problemas. Há causas pelas quais vale a pena lutar, nomeadamente, a integração de pessoas com deficiência. Sei que não posso mudar o mundo, mas posso fazer alguma diferença…
Assume-se profissionalmente como escritora. Sabendo que, neste país, poucos o podem fazer e que os níveis de leitura não são os melhores, como é que consegue sobreviver?Efectivamente, apesar dos muitos livros editados, seria impossível sobreviver dos respectivos direitos de autor. Com o clima de crise, infelizmente a cultura e tudo o que lhe está associado são considerados bens dispensáveis, pois as pessoas precisam de comer, calçar, vestir e também têm as despesas com a educação dos filhos. De forma que, muitas das idas a escolas, não têm como objectivo a venda de livros, mas antes a promoção e divulgação dos mesmos e da leitura também. Vou plantando sementinhas para o futuro.
Quais são os escritores que continuam a ser a sua influência?Apesar de estar em constante evolução, tenho uma formação literária de base muito influenciada pelos autores clássicos portugueses, em especial os do século XIX: Eça de Queiroz, Júlio Dinis e Trindade Coelho. Li ainda Florbela Espanca, Fernando Pessoa e os seus heterónimos, Miguel Torga e Sophia de Mello Breyner Andersen. Na literatura estrangeira, destaco Léon Tolstói, Alexandre Dumas, Gabriel García Márquez e Mia Couto. | |
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