Páginas de Vida
Aos meus olhos eu sou uma pessoa sem mácula, porque tudo o que faço é na convicção que é o correcto, mas os outros certamente encontrarão em mim os erros que todo o ser humano tem. Mas uma coisa vos posso garantir, é que no plano social nunca me considerei superior ao mais simples dos cavadores( considerado então o mais baixo da classe) nem inferior ao mais laureado dos doutores. Nunca me senti nem sinto. Afinal cada um de nós tem a sua função social, e seria um derrotado à partida se fosse eu próprio a menosprezar o meu EU.
Não sei se poderei dizer que era um miúdo sem grandes aspirações, porque, é certo, nunca aspirei a ser professor, doutor ou engenheiro, mas queria sempre ficar entre os melhores naquilo que fazia, e isso consegui(deixemo-nos de falsas humildades).E a minha vingança era quando um companheiro que tinha criada que o tratava por menino se zangava comigo e me atirava um eu sou rico e tu és pobre, a minha vingança era a resposta que interessa isso se eu sou melhor do que tu?
Que fique entretanto bem claro, que não pretendo que esta minha maneira de ser e de estar seja a mais correcta, mas quero simplesmente incentivar os que, perante situações que por vezes até não passam de fachada, deixam adormecer as suas potencialidades. Há que seguir sempre em frente, aprender e evoluir sempre. Alguém referiu não me recorda agora quem, que o homem vale pela soma dos seus actos.
Mas voltando directamente ao assunto, houve aliás um tempo em que gostava de poder ser advogado por os julgar os paladinos da verdade, os grandes defensores do bem e da justiça, e grande foi a desilusão quando constatei que alguns conquistam fortuna e nome defendendo os que sabem ser criminosos, procurando na lei os buracos que lhe amenize a pena ou dê mesmo a absolvição.
Aliás, uns três dias antes do 25 de Abril tinha na minha secretária um jornal em que colaborava, e em que falava na importância da socialização das pessoas e a elevar o mérito do cavador. Claro que socialização não é sinónimo de socialismo, mas a sua referência e a credibilização do trabalhador eram afirmações que poderiam ser consideradas perigosas. Estava preocupado, e isso transmitiu a um senhor que me veio entregar uma máquina. Não esteja preocupado, disse-me; e olhe se quizer tire aquela fotografia da parede(Era ainda de Salazar).
Dias depois contou-me que, com destino ao Quartel de Portalegre, vinha já em serviço do 25 de Abril
Lino Mendes