Caminhos da Cultura
Lutando embora com muitas dificuldades, é importante que a imprensa regional informe sobre os eventos culturais que se vão realizando, não dispondo no entanto do espaço necessário quando se trata de acontecimentos no âmbito do tradicional. É que se vem dizendo muita coisa errada, e como na escola não se ensina e estou convicto que grandes figuras da nossa cultura também não sabem o que é folclore, não havendo uma clarificação, são cada vez mais negros os horizontes da nossa identidade cultural.E só uma acção verdadeiramente nacional, em que se empenhem todos os que na verdade interiorizaram a realidade no folclore, poderá colocar as coisas no seu devido lugar.
As entidades oficiais e os grandes fazedores de opinião nada ligam ao que, quem não gosta do termo “folclore”(que têm atirado para a lama) pode tratar por “cultura tradicional e popular”.E o mais curioso é que ,segundo a Sociedade de Língua Portuguesa,tal situação só pode aceitar-se a um analfabeto ou a pessoas de pouca cultura.
Há muito que venho batendo à porta dos Governos e nada. Verdade se diga, que no de António Guterres cheguei a ser recebido e as coisas estavam a ser encaminhadas, mas entretanto o executivo caiu e tudo ficou na mesma. Nada sei de folclore, disse-me a jovem assessora que prometera mesmo ir estar no nosso festival. No Governo de Sócrates, nem uma resposta e agora, logo que o actual tomou posse, lá estava eu, mas que tivesse calma que logo que arrumassem a casa me contactariam para marcar uma audiência. Mas como nunca vão ter a casa arrumada…
Escrevi ao Provedor da RTP, e quando esperava que alguém lá fosse chamado, a lacónica informação de que a minha exposição fora entregue à Administração.
Entretanto e entre outros erros, com a melhor das intenções algumas autarquias já gravaram os seus grupos de folclore sem saberam que estão a legar uma mentira à posteridade.
Quero entretanto aqui dizer ,que não me considerando representante do folclore português, a minha intenção era abrir as portas à Federação.
Impressionante, o que está a acontecer com a candidatura do”Cante” a Património Imaterial. Impressionante, repetimos, a lista de figuras públicas que a subscrevem e que, ressalvando as excepções que sempre existem, nada ligaram até hoje ao folclore, de que no entanto agora precisam, acredito até que por razões louváveis; que aliás só o serão desde que não seja à custa da representatividade do mesmo(“cante”)
Creio que a candidatura que não for aceite, durante cinco anos não o pode voltar a fazer, e no sentido de um cuidado especial tenho alertado algumas individualidades. Mas então se o fado o foi porque não o será o “cante” também .Claro desconhecimento, porque me custa dizer ignorância.
Certo que o “cante” é Património Imaterial, e se não somos obrigados a aceitar todos os conceitos emanados da UNESCO, esta candidatura tem que respeitar a respectiva Convenção, que logo na alínea 1 do artigo 2refere que para efeitos da mesma , entre outras coisas considera que “este património cultural imaterial, que se transmite de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interacção com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana.”
Mas se para mim foi surpresa a candidatura em si, foi com preocupação que tive conhecimento de que dentro do movimento havia quem entendia que o “cante” não deveria ser apresentado na sua pureza mas adaptado aos tempos de hoje.
Não foi certamente por acaso que a UNESCO tratou em documentos diferentes a salvaguarda do IMATERIAL e do FOLCLORE.
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Recomendação para a Salvaguarda da Cultura Tradicional e do Folclore.
UNESCO,1989
Convenção para a Salvaguarda do Património Imaterial da Humanidade, UNESCO, 2003
LinoMendes